domingo, 23 de dezembro de 2012

A Grande Mentira, ou Manifesto Anti-Plutocrata.

Este é o último texto que publico em 2012. Decidi intitulá-lo A Grande Mentira, na senda do grande Polyani "A Grande Transformação", ou "A Teoria Geral" do grande e inesquecível John Maynard Keynes,... transformada na Teoria Geral da Mentira. Poderia discorrer sobre o Caminho para a Servidão de Hayek, mas numa perspectiva de esquerda, bastava para isso mudar algumas ideias do referido texto. A Grande Mentira não é mais que a vivência que temos seguido há vários anos, mas em particular nos últimos dois. O modelo económico, social e político baseia-se numa mentira, mentira essa, que nos hipnotiza e restringe a nossa força de lutar (é bem claro na última campanha eleitoral protagonizada pelo primeiro ministro eleito). São proferidas frases até à exaustão, pelas elites governantes, palavras chave que se tornam numa espécie de dogma conceptual a ser seguido pelos imensos rebanhos europeus. Frases tipo, "não há alternativa"..."Excessivo endividamento"..." o caminho é a austeridade" pululam dentro dos nossos ouvidos, como mitos urbanos, reforçando as grilhetas de uma ditadura plutocrática que se vai instalando na Europa e no resto do mundo. Uma mentira económica baseada num grande erro conceptual oferecido pela Ciência Económica do século XIX, e desenvolvida por economistas na primeira metade do século XX, e da fase final desse mesmo século, dando seguimento ainda com mais profundidade no século XXI. Essa mentira económica baseia-se na defesa intransigente dos mercados livres, da concorrência perfeita e na racionalidade dos agentes económicos. São estes postulados que levam à liberdade de circulação de capitais, independência dos bancos centrais do sistema político, e como tal, do escrutínio público. São estas ideias líricas e inconsequentes que nos levam às privatizações, concessões, e compadrios do sector público com o sector privado. Bens naturalmente públicos como saúde, educação, água, entre outros, são privatizados, criando rendas perpétuas aos plutocratas, agravando as desigualdades, exaurindo a classe média, votando para a miséria eterna, os já miseráveis, enriquecendo de uma forma odiosa e ilegal os ricos, banqueteando-se em famosos paraísos fiscais. Este sistema apenas sustentado por gráficos e equações devidamente alinhadas na teoria, sofre logo à partida de uma ruptura conceptual quando atirada aos leões da realidade da vivência humana. As relações de poder e interesse, de conhecimento, as condições à partida, os gostos e modas, a corrupção, o compadrio e o clientelismo, os próprios limites das estruturas sociais e empresariais, sejam elas legais ou ilegais, deturpam, iludem e impedem a existência de qualquer conceito de concorrência perfeita, sem que a intervenção estatal, através de regulamentos, reguladores em determinados casos, inibem a existência de super estruturas, que de outro modo agravariam as desigualdades no campo empresarial, e consequentemente uma perda brutal para os consumidores. Livres mercados e concorrência perfeita com consumidores e produtores eternamente felizes é algo que não existe sem a intervenção governamental. Muito menos, agentes racionais, operando no mercado, como super homens, possuidores de toda a informação relevante que lhe permitiria tomar as decisões mais eficientes, dada as restrições existentes. A informação e o conhecimento é limitado a cada um. Ninguém, nem nenhuma empresa tem toda a informação, presente e muito menos futura, ou seja, essa treta de mercados eficientes é algo que não existe. Essas teorias levianas levaram a uma crise de endividamento de Portugal, quais parasitas, acobertando-se junto da dívida pública portuguesa parasitando-a até a exaustão. A crise não é de deficits, de endividamento per si, a crise é a crise das ideologias, do papel do estado na sociedade, no contrato social, aí reside a crise. Tudo o resto é mitigado pela grande mentira gritada até aos sete ventos pelos paladinos, porta vozes dos plutocratas reinantes. Despeço-me de 2012, com os votos a todos de um 2013, Melhor e que se impulsione o debate sobre o Contrato Social. Daquilo que as populações querem, anseiam e podem... por aquilo que os plutocratas querem impingir...e têm podido. Até quando....????

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Como salvar Portugal em 5 pontos e algumas alíneas

1 - Renegociar a dívida pública portuguesa, trocando o financiamento absurdo e anacrónico da troika por obrigações do tesouro garantidos pelo BCE à taxa de juro de 1% ao ano e com maturidade de 20 anos. a) Apontar para uma redução efectiva da dívida pública em função do PIB a partir do 3ºano, e pugnar por uma redução sistemática e coerente, aceitando um acréscimo da dívida pública em períodos de menor actividade económica, deixando funcionar os estabilizadores automáticos. 2- Reduzir no espaço de 2/3 anos de uma forma sistemática os impostos, e repondo os subsídios de natal e férias, restituindo poder de compra ao mercado interno, componente importante do PIB. a) Reduzir o IVA à taxa normal em 3 anos de 23% para 2013 (21%) 2014 (20%) e 2015 (18%). b) Aumento da progressividade do IRS, em particular nas classes médias, e protegendo as classes com rendimentos anuais inferiores a 6.000 euros. c)Limitar o tecto de custos fiscais a 60% da facturação a empresas que declaram prejuízos em 2 anos consecutivos. d) Imposto especial sobre as parcerias público privadas existentes. e) Sobretaxa sobre movimentos de capital especulativo. f) Acabar com todas as sobre taxas no IRS, excepto para rendimentos superiores a 100.000 euros anuais. g) Aumentar a fiscalização às empresas, particulares. 3- Deixar de haver confusão entre austeridade e rigor. Pôr um fim da austeridade sem descurar o rigor das contas públicas. a) Controlo apertado dos orçamentos e execução municipal, regional e estadual. b) Atribuir poderes especiais e alargados de controlo ao tribunal de contas. Para todos os investimentos acima de um milhão de euros, deve ser acompanhado por um inspector do TC em todas as fases do processo. c) Maior ligação da Assembleia da República com a UTAO (Unidade Técnica de Apoio Orçamental) d) Fim às parcerias pública/privadas na área da saúde e educação. e) Fim às empresas municipais, agregando-as à alçada da respectiva câmara. f) Regime de exclusividade a determinados cargos políticos, presidentes de câmara, deputados, entre outros. g) Reavaliar funções do Estado, dando prioridade a uma saúde e educação de qualidade e em permanente inovação. A justiça deve ser acessível a todos os cidadãos. h) Todas as funções que possam ser consideradas redundantes (fundações, etc) devem ser eliminadas do orçamento de estado. i) Aposta forte na investigação universitária e empresarial, de forma a redesenhar o mapa industrial do país. 4- Manutenção dos apoios sociais, aumentando as verbas para o RSI, monitorizando de uma forma próxima as exigências do programa. Aumentar as verbas para o subsídio de desemprego, principalmente em casais em que ambos estão desempregados, concomitantemente desenvolver políticas de emprego activas, com a restituição da procura agregada. 5- Políticas internacionais: a) No âmbito da U.E. perceber que travar o ciclo de globalização que tem causado profundas assimetrias de desenvolvimento dentro da zona euro, impondo uma nova pauta aduaneira, que permita o regresso de novas e renovadas industrias "tradicionais", promovendo o mercado interno U.E. e concedendo benefícios a empresas que invistam na valorização profissional das pessoas e na tecnologia de ponta. b) Redefinir as funções do BCE, eliminando a cláusula de taxa de inflação de 2%, inscrevendo políticas de promoção do pleno emprego, com uma gestão monetária eficaz, com baixa taxa de juros, promovendo o investimento produtivo, contra o "investimento" especulativo", alavancando a procura na zona euro. c) Proibir contratos de rating com as agências tradicionais na avaliação pública, na zona euro, criando dentro do BCE, uma comissão de análise clara e objectiva sobre a situação de um determinado país. d) Eliminar a independência do BCE, sujeitando ao escrutínio público, através de uma interacção entre a comissão de governadores e ministros das finanças dos países da zona euro. e) Ilegalizar os paraísos fiscais, sendo em si contra natura, e uma aberração jurídica.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

A refundação do Estado

A refundação do Estado parece ser a nova palavra chave para desviar os cidadãos do essêncial. A profunda crise económica e a incompetência dos políticos do sistema em resolvê-la.
Enquanto que o desemprego cresce, os jovens são cada vez mais atirados para a precariedade, emigração e desemprego estrutural, o dogma neoliberal continua a "vomitar" a mesma cartilha de sempre. Austeridade, mais austeridade, e se os números não estiverem em ordem, mais austeridade.
Não interessa perceber que os déficits, só se combatem com rigor orçamental, que é diferente de austeridade, com políticas conjuntas públicas e privadas, em que se promova o investimento, e o consumo responsável, com políticas do lado da procura de forma a reactivar a economia.
Sem investimento na economia real, e uma reanimação do consumo iremos entrar num processo de empobrecimento estrutural e sucessivo.
A fuga para a frente de políticos inaptos é atacar o Estado social, nas suas variadas vertentes: o apoio social propriamente dito; não tenhamos ilusões, neste capitalismo de "papel" irá sempre haver vencedores e vencidos, não é um jogo de soma nula. A saúde universal e gratuita, paga pelos impostos dos cidadãos distingue-nos, de um profundo sentimento humanista, que ultrapassa qualquer barreira economicista. Tornar o sistema de saúde, mais uma mercadoria, sujeita a "leis de mercado" é perverso, desumano, e uma forte quebra do contrato social entre os cidadãos e os seus representantes no Estado.
A educação é fundamental para qualquer país que queira combater as desigualdades (Portugal é um dos países mais desigual da Europa). O acesso universal e gratuito não é um favor que se faz aos cidadãos, é uma benfeitoria para a sociedade, os ganhos económicos e sociais a prazo são imensamente superiores do que a mera aritmética financeira e conjuntural de um ou dois orçamentos de estado.
O Estado que se quer refundar agora sustenta-se nas teorias do Estado mínimo da escola inglesa do "deixar fazer", "laissez faire". John Stuart Mill, David Ricardo ou Jean Baptiste Say, partilhavam já no século XIX, inspirados pelo fundador da ciência económica moderna, Adam Smith, pensamentos como: "o melhor de todos os impostos é o que proporciona menores receitas", sustentada na primazia do mercado, e portanto na mercadorização de bens públicos, como a saúde ou a educação, canibalizada pelo sector privado, privando o Estado da função redistributiva, única forma de combater as desigualdades de rendimento, a pobreza extrema e a consequente desagregação e degradação social.
Por outro lado, no pós segunda guerra mundial, vinha sendo construído, em Portugal só após 1974, um Estado de bem-estar, que respeitava a propriedade privada, mas em contrapartida garantia aos seus cidadãos acesso a bens primários, redistribuidor de rendimento através de impostos justos e progressivos, actuando também como redutor do risco, incerteza e informação assimétrica.
Numa perspectiva utilitarista, e alicerce teórica de uma defesa de politícas redistributivas, a utilidade de um euro adicional para um individuo pobre é muito superior que à desutilidade de um euro a menos para um individuo rico, ou seja, transferir um euro do segundo individuo para o primeiro fará aumentar o bem estar social. Este argumento combate a ideia dos defensores do Estado mínimo de que a utilidade marginal do rendimento era constante, contrapondo com os defensores do Estado de bem-estar com o pressuposto de que a utilidade marginal do rendimento é decrescente. Este raciocínio tem lógica, na medida que através da analogia da sede e do prazer que o primeiro copo de água nos dá, não será igual ao prazer que o segundo copo de água, muito menos ao terceiro. O mesmo se poderá dizer da riqueza extrema, de gastos sumptuosos que ofendem a dignidade humana.
Assim, percebe-se que a refundação do Estado, passa por um incremento do Estado de bem-estar, com polítícas redistributivas, redutoras das desigualdades, mas também incentivadoras da inserção social através do mercado de trabalho.
Na actual conjuntura, onde se valoriza a especulação financeira e a economia do "nada", certamente que a refundação do Estado far-se-á na reconstrução do Estado mínimo, do laissez faire, privatizando os sistemas de saúde, a educação e afunilando o acesso a estes bens essênciais aos mais desfavorecidos economicamente. Eis enfim, a perspectiva maquiavélica da política e das funções do estado, na era moderna, a política liberta da moral, os fins justificam os meios para a perpetuação das elites endinheiradas no poder, e continuarem a controlar a "democracia" agonizante.
Apela-se a um regresso dos verdadeiros ideiais socialistas, de Eduard Bernstein e Jean Jaurès, que romperam com a estrutura revolucionária e violenta de Karl Marx, mas defenderam a via do socialismo parlamentar e ético para uma sociedade justa, e que certamente se insurgeriam hoje com as falsas ilusões das terceiras vias e da social democracia decadente, vendida e usurpada ao grande capital.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Empobrecimento activo

O maior deficit de Portugal foi e é a educação. A responsabilidade pelas más políticas educacionais são sucessivamente dos governos. No tempo da monarquia imperava o elitismo, fruto de nascimentos em berço de ouro, e apenas raramente poderia alguém do povo destacar-se no plano educacional e social. A 1ª republica teve um assomo de desenvolvimento educacional, com a disseminação de escolas primárias no país. Contudo, dada a pobreza extrema que o país, em particular o rural vivia, impedia a existência de condições para que a maioria das crianças pudesse sequer frequentar as aulas, e por isso, a ambição foi tolhida pelo realismo português do início do século XX. No início dos anos 30 entramos na idade das trevas políticas e educacionais. A "antiga" 4ª classe era o grande objectivo a atingir, alguns conseguiam completar, poucos conseguiam um pouco mais, e raros eram aqueles que frequentavam e completavam o ensino superior. A necessidade de começar a trabalhar rapidamente fazia parecer para muitos que a escola era o suplício a ultrapassar, dava para escrever o nome e ler o jornal desportivo. A emigração em massa nos anos 60 e a maldita guerra ultramarina completava o resto. Assim, ao longo do século XX, com as raízes herdadas de séculos anteriores, gerações e gerações de portugueses caíam no ciclo vicioso da pobreza, fruto de um contexto histórico e político adverso, inconsequente e incompetente, que alimentava um grupo restrito de elites que alocava para si o rendimento gerado no país, e que não tinha uma visão estratégica para um programa educacional, de qualidade, universal, gratuito, motivador, e que acima de tudo alterasse mentalidades e costumes. Com a democracia, abre-se uma nova esperança. Proliferam as universidades, em poucos anos o número de alunos no ensino superior disparam. A sociedade portuguesa nos últimos 40 anos mudou profundamente, a escola enriqueceu o espírito crítico dos portugueses, tornou-os mais avisados, mais produtivos. No entanto, o vírus do século passado manteve-se activo. O 25 de Abril não o eliminou, o vírus do elitismo social e político. O vírus das empresas monopolistas, (Galp, EDP) que através de preços inadequados e acima dos preços de equilíbrio alimentam sumptuosos lucros, enriquecendo à custa do empobrecimento geral da sociedade. Uma banca mais preocupada na especulação financeira, nos jogos de monopólio do que implementar uma apropriada política de financiamento da economia portuguesa, onde milhares de empresas definham pelo caminho da insolvência. Um governo profundamente incapaz, incompetente, e ardiloso, subserviente das políticas da troika. Portugal é uma vítima do euro, mas o euro é apenas uma moeda. O euro é mau para Portugal porque as instituições criadas para liderar o euro são desadequadas, partilham uma cartilha própria que defende os interesses da Alemanha. Porque abrimos alegremente as fronteiras a países com mão de obra muito barata, que destruíram capacidade produtiva, atirando milhares de portugueses para o desemprego estrutural. O desemprego cresce, é bem possível que em 2013 cheguemos a uma taxa que ronde os 20%. Os jovens, quando arranjam qualquer coisa, deixam-se iludir pela precarização. Aquilo que o neoliberalismo já tinha dado no século XIX, e no início do século XX, foi fome, miséria e desigualdade. Agora a história repete-se, disfarça-se a sociedade com RSI's e outros apoios sociais. Mas isto não é mais que uma forma de tornar a pobreza permanente e (in)suportável. Serve para este capitalismo, filho e neto, da revolução industrial, expurgar a sua ignomínia. E a escola, a tal escola, onde se gasta mais dinheiro em juros para alimentar o dinheiro especulativo, a troika do que a educação. Sujeita-se a 30 alunos por turma, à retirada em massa de professores, muitos com carreira feita, e experiência acumulada de vários anos. É a fase final do capitalismo podre e absurdo, onde se valoriza mais a especulação do que o investimento em emprego, a produzir coisas que realmente precisamos. E nós... continuamos céleres e não seguros para o empobrecimento activo.

sábado, 8 de setembro de 2012

Saúde - Uma mercadoria

As políticas do governo neo-liberal de Passos Coelho incluem a transformação contínua e progressiva da saúde em Portugal num negócio extremamente lucrativo para o grupo mello e para outros mello's que açambarcam a riqueza criada, protegidos pela fada madrinha dos direitos de propriedade, de casamentos oportunistas, de relações espúrias com governos e seus serviçais fracos, com o cerco a monopólios naturais destinados a fornecer bens públicos aos cidadãos.
Daqui resulta, por parte deste governo, um completo desprezo pelo conceito de cidadão, pelo brutal e descarado desprezo pelo espírito humanista, solidário e colectivo da sociedade, alicerçando o princípio do individualismo que desemboca inevitavelmente no egoísmo, na desigualdade, no empobrecimento da classe média, e o regresso à atitude caritativa hipócrita aos mais pobres.
Não há democracia, no sentido moderno como a entendemos, sem o direito Universal e Gratuito à Saúde.
Transformar a saúde em mais uma mercadoria que se pode negociar, num mercado livre de oferta e procura, cuja acessibilidade se traduz no nível de rendimento, é um hediondo crime cujos políticos legitimamente exercendo o poder, mas ilegitimamente executando-o, deveriam ser punidos com CADEIA.
As parcerias públicas e privadas é apenas um primeiro passo, da mercadorização deste bem essencial ao ser humano, seja ele de direita ou de esquerda. 
Estranho que aquilo que o estado não quer gerir, entregue a privados, e os privados como que esfregando as mãos aceitam, tal nefasta tarefa, oh coitados do grupo mello e afins, quais abutres ávidos de mais um lucro por cada ano que passa. Não há problema, engana-se o estado nas consultas, faz-se duas consultas, uma para a cervical outra para a lombar, quando o paciente poderia ser atendido numa só, assim o estado paga duas vezes, a especialidade XPTO não dá lucro, então elimina-se, manda-se para um verdadeiro e raro hospital público, este paciente parece que vai dar muito prejuízo, manda-se para o S. João, o que importa é o lucro, é o lucro no fim do exercício fiscal. Os accionistas assim o reclamam.
Os seguros de saúde também não são solução. é um negócio lucrativo que apenas beneficiam as companhias de seguro, ou seja o grande sector financeiro, prejudica o cidadão, e em última análise se prejudica o cidadão, prejudica o estado.
As coberturas não estão acessíveis a preços acessíveis a todos os cidadãos, são rescindidos contratos com segurados com doenças prevalecentes, crónicas, em repetição ou o que queiram chamar.
A saúde como mercadoria, perde o estado, perde o ser humano, ganha o capitalista.

AGORA A ESCOLHA É SUA.

domingo, 12 de agosto de 2012

DESMASCARAR OS PARASITAS FINANCEIROS


Baixa de salários será pior para a economia, avisa OIT contrariando posição do BCE

O BCE quer que os países da zona euro atingidos pela crise da dívida baixem ainda mais os salários, nomeadamente o salário mínimo. A OIT contraria esta posição, defende que recuperar a competitividade através de cortes salariais é “insustentável a nível mundial” e alerta que estas medidas poderão criar uma espiral de queda da procura agregada e de deflação de preços.
A OIT alerta que a política de baixa de salários pode criar uma espiral de queda da procura agregada e de deflação de preços
O Banco Central Europeu (BCE), no seu boletim mensal divulgado nesta quinta feira, elogia as medidas que têm sido impostas pela troika e diz que os países da zona euro atingidos pela crise da dívida soberana - nomeadamente Portugal, Grécia, Irlanda, Espanha e Chipre, devem baixar os salários, porque têm “graves desequilíbrios macroeconómicos”.
Para o BCE é “particularmente urgente” que estes países reduzam os custos unitários dotrabalho, devendo, em especial, flexibilizar a legislação de proteção do emprego, abolir a indexação salarial e baixar o salário mínimo. O BCE não se coíbe mesmo de vir de dizer novamente que estes países devem avançar rapidamente com outras medidas impostas pela troika, nomeadamente as privatizações, sob a justificação de que é preciso criar um ambiente empresarial “favorável”.
Nesta sexta feira, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou um comunicadocontestando abertamente a posição do BCE. Diz a OIT que reduzir salários para aumentar exportações, também deprime o consumo interno, afetando o crescimento e que, “dado o nível de incerteza económica neste momento, também não é claro que os cortes de salários gerem incentivos suficientes para aumentar o investimento”.
"Sempre que uma queda nos salários reduz o consumo interno mais do que aumenta as exportações e o investimento, tem um efeito negativo sobre o crescimento económico de um país", diz Patrick Belser, economista da OIT e editor do Relatório Global sobre os salários.
A OIT salienta que baixar os salários em períodos de crise, como o atual, pode criar uma espiral de redução da procura agregada e de deflação dos preços. Além disso, sublinha a instituição, querer recuperar a competitividade através da redução dos custos unitários do trabalho, nomeadamente cortando salários ou levar a produtividade a crescer mais do que os salários, é “insustentável a nível mundial”. Belser frisa que se a política de cortes salariais for aplicada “simultaneamente em todos os países” então os ganhos competitivos perdem-se e o efeito regressivo dos cortes globais dos salários poderá “levar a uma depressão mundial da procura agregada e do emprego” e defende que o objetivo deve ser “que os salários e a produtividade cresçam ao mesmo ritmo”.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Resgates - Da Esquerda.net

8 questões: como funciona o "resgate" de um país?


A ideia deste artigo é responder a algumas perguntas sobre a situação que vivemos: o que é um resgate? Como funciona? Quais são as consequências para os cidadãos? Começamos pelas questões básicas e avançamos para os detalhes. Por Alberto Sicília

Artigo
13 Junho, 2012 - 11:01

"Nem um euro para resgatar bancos" - protesto de indignados contra Bankia 1. Como se financiam os serviços públicos de um país?



Em princípio, um país financia os seus serviços públicos (educação, saúde, pensões, etc.) com o dinheiro que arrecada dos impostos. Se o país gastar mais do que arrecada, o governo pode arranjar dinheiro nos mercados financeiros, através da emissão de dívida.



Emitir dívida é pedir um empréstimo que será devolvido com certos juros num prazo determinado. O governo organiza um leilão e adjudica a sua dívida ao investidor que oferecer o tipo de juro mais baixo.



Neste momento, os investidores pedem, para um vínculo de 10 anos, uma taxa de 6.41% a Espanha e 1.20% à Alemanha. A diferença entre a taxa de vínculo espanhol e a do vínculo alemão (641-20 = 521) é o famoso "prémio de risco".



2. Quando se produz um resgate?



Se o tipo de taxa que pedem os investidores for demasiado alta, não tem sentido emitir dívida, porque será impossível devolvê-la.



Assim, os estados podem solicitar "um resgate", em vez de procurarem o empréstimo nos mercados financeiros, pedindo dinheiro ao FMI ou a outras instituições internacionais.



Os resgates da Grécia, Irlanda e Portugal efetivaram-se quando os investidores pediam cerca de 7% por vínculo de 10 anos. A partir desse nível, os empréstimos são insustentáveis.



3. Um resgate é a única opção que tem um governo com problemas financeiros?



Não. Um país sempre pode "negar pagar a sua dívida" (os jornais costumam utilizar o termo inglês, "default"). Um estado também pode considerar a "reestruturação" da dívida. Por exemplo, negociando com os investidores que a quantidade a devolver seja menor que a acordada ou num prazo mais longo.



O default tem uma grande vantagem (de um dia para o outro, a dívida desaparece) e também grandes inconvenientes: 1) A partir desse momento, não se pode gastar nem mais um euro do que estiver arrecadado 2) Podem passar muitos anos até que algum investidor volte a emprestar dinheiro e 3) Um default espanhol abalaria todo o sistema financeiro europeu e os governos do continente teriam que resgatar os seus bancos.



Um dado curioso: em 1557, Espanha foi a segunda nação na história que suspendeu o pagamento da sua dívida. Ao chegar ao trono, Filipe II deu conta que os metais preciosos da América não eram suficientes para pagar as taxas da dívida contraída pelo seu pai aos banqueiros holandeses. O referido rei voltou a declarar bancarrota, em 1577 e 1597. No total, Espanha deixou de pagar a sua dívida em 14 ocasiões. (Clicando no link pode-se aceder a uma lista de todos os defaults que se produziram no mundo)



A última vez que Espanha declarou um default foi, em 1939, quando ao terminar a guerra civil, Franco negou o pagamento da dívida contraída pelo governo da República.



Como o default é uma opção que, por agora, parece não ser contemplada, vamos centrar-nos nos "resgates".



4. Quem faz os resgates?



O FMI é, normalmente, o organismo internacional encarregado de "resgatar" países com problemas financeiros.



Os resgates da Grécia, Irlanda e Portugal são supervisionados por uma "troika" formada pelo FMI, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu.



5. De onde sai o dinheiro para os resgates?



O FMI é financiado pelos governos de todo o mundo. A contribuição e o poder de voto de cada país são, aproximadamente, proporcionais ao tamanho da sua economia (exceto para a China).



Os governos com mais poder no FMI são: EUA (16% de votos), Japão (6%) e Alemanha (5%).



Para lidar com a crise europeia, a UE criou outras duas entidades que podem emprestar dinheiro: o "Fundo Europeu de Estabilidade Financeira" (EFSF) e o "Mecanismo Europeu de Estabilidade Financeira" (EFSM).



No EFSF, a Alemanha contribui com 27%, a França com 20%, a Itália com 18% e a Espanha com 12%.



O EFSM apoia-se no orçamento da UE, cujos maiores contribuintes são, por esta ordem, Alemanha, França, Itália, Reino Unido e Espanha.



O EFSF pode emprestar até um limite de 440.000 milhões, o EFSM até 60.000 milhões e o FMI até 250.000 milhões. No total, a capacidade de empréstimo é de 750.000 milhões de euros.



6. Quais são as condições para obter um empréstimo da "troika"?



Aqui está o sumo da questão. Os empréstimos do FMI/troika são muito diferentes dos obtidos nos mercados financeiros.



Quando um governo emite dívida nos mercados financeiros, pode gastar o dinheiro obtido como quiser. Os investidores podem estar mais ou menos contentes (em cujo caso, pedirão uma taxa mais baixa/alta no próximo leilão), mas não têm um poder direto para tomar as decisões políticas do estado.



Pelo contrário, os empréstimos do FMI/troika condicionam o governo que os recebe à implementação de reformas muito concretas. A troika empresta dinheiro "por tranches": conforme o governo vá adotando as medidas que eles impõem, vão soltando o dinheiro. E, se o governo não cumprir, cortam o financiamento e o país vai à vida. Um país intervencionado perde a sua soberania na tomada de decisões políticas.



7. Que condições impuseram à Grécia?



- Mudar a Constituição para que o pagamento da dívida tenha prioridade sobre qualquer outra despesa pública.



- Despedimento de 150.000 empregados públicos em 2 anos (tendo em conta a população grega, isto corresponderia a 700.000 em Espanha).



- Corte do salário mínimo desde 751 euros a 580 euros (e 510 euros para os menores de 25 anos).



- Os Orçamentos têm que ser aprovados pela troika antes de serem votados no Parlamento.



- Supervisores da Comissão Europeia instalados permanentemente em Atenas.



- Cortes nas pensões e despesas com a saúde.



- Privatização das empresas públicas.



O resgate da Grécia está a provocar uma tragédia: o desemprego duplicou, os salários baixaram 30%, disparou o número de pessoas sem abrigo e os suicídios.



Mais terrível ainda: todo este sofrimento humano pode ser gratuito. Como a economia grega está a contrair muito rapidamente, os rendimentos estão a colapsar. Assim a Grécia pode acabar com a mesma percentagem da dívida como a que começou.



8. Qual é a situação de Espanha?



O problema de Espanha é que o governo procura muito dinheiro para tapar o buraco dos bancos. Mas como já se está a emitir a dívida a uma taxa altíssima, torna-se claro que não se vai obter esse dinheiro nos mercados. A solução só pode vir da Europa.



Conseguiremos esse dinheiro sem entrar formalmente num resgate? E ainda que não seja um resgate, que condições irá impor a Alemanha? Teremos a resposta em poucas semanas.1



Artigo de Alberto Sicília(investigador em física teórica e autor do blogue Principia Marsupia), publicado em Periodismo Humano.



Tradução de António José André para esquerda.net



segunda-feira, 11 de junho de 2012

O "perigoso" RSI

20 Abril 2012


governo quer mexer na forma de cálculo do RSI e alterar os ponderadores de cada família

João Ramos de Almeida

Público, 19 de Abril de 2012



A manter-se o valor de referência do actual RSI, as novas regras poderão expulsar milhares de beneficiários do apoio





O Governo quer alterar a fórmula de cálculo do rendimento social de inserção (RSI). Caso se mantenha o valor do actual rendimento de referência, a quebra nos apoios e do número de beneficiários será considerável.



Na proposta de lei já entregue aos parceiros sociais, o Governo não é claro sobre o que pretende fazer. O próprio ministro Pedro Mota Soares omitiu a modificação, na conferência de imprensa de anúncio, após o Conselho de Ministros. Nem explicou como poupará 70 milhões de euros. O PÚBLICO questionou o Ministério da Solidariedade, mas no mail enviado não se respondeu a qualquer das perguntas colocadas. Mas a questão é sensível.



Em Fevereiro passado, o RSI apoiou 121.443 famílias, num total de 322,9 mil pessoas, com um valor mensal por pessoa de 92 euros.



Actualmente, o valor da prestação está indexado à pensão social (189,52 euros) e depende da composição do agregado. Ora, o Governo quer mexer tanto no rendimento de referência como na fórmula. Primeiro, o rendimento de referência do RSI será igual a uma percentagem do indexante de apoios sociais (IAS, de 419,22 euros), a fixar por portaria do ministro da Solidariedade. O IAS está congelado durante o programa de apoio financeiro externo e, por isso, o valor do RSI só crescerá se o Governo aumentar a percentagem do IAS aplicável ao RSI.



Depois, o Governo optou pela tabela de escalas de equivalências da OCDE. O valor do RSI será igual a 100% do rendimento de referência para o adulto requerente (como agora), mas por cada adulto adicional na família receber-se-á mais 50% do rendimento de referência (em vez de 70% da pensão social) e, por cada menor, mais 30% do rendimento de referência (em vez de 50% da pensão social).



Qual o efeito da alteração? Tudo depende da percentagem do IAS que o governo vier a fixar. Se o governo optar por uma percentagem do IAS que corresponda à actual pensão social (45%), então as consequências serão gravosas.



Carlos Farinha Rodrigues, professor do Instituto Superior de Economia e Gestão, estima em milhares a quebra dos beneficiários. No caso de um casal com duas crianças, o limite de aceitabilidade no RSI desce de 512 para 398 euros (uma quebra de 22%). Ou seja, deixam de ser apoiadas todas as famílias que tenham rendimentos naquele intervalo. No caso de uma família monoparental com uma criança, os limiares descem de 379 para 303 euros (uma quebra de 20%). Só não sofrem alteração as pessoas isoladas. Esta alteração penaliza sobretudo as famílias com crianças a cargo.



E não só haverá uma redução do número de beneficiários como também no valor dos apoios. Isso porque o valor do RSI resulta da diferença entre o rendimento da família e o rendimento de referência. Mas tudo fica a depender da percentagem do IAS que o Governo fixar.



As eventuais quebras no RSI são mais significativas, já que representam uma segunda quebra, desde que o Governo socialista introduziu, em 2010, a condição de recursos - em que os beneficiários prestaram contas dos seus bens. Só o casal com dois filhos sofreu, em 2010, uma quebra de 569 para 512 euros.



O PÚBLICO quis saber do ministério se os valores eram os correctos, qual seria a percentagem do IAS a aplicar, como se poupará os 70 milhões, de que forma as quebras esperadas irão ao encontro do compromisso do Governo junto da UE de reduzir em 200 mil pessoas o número de pobres (Estratégia 2020), dado que, como se concluiu, o RSI contribui fortemente para a redução das desigualdades sociais. Em vão.

publicada por Nuno Serra às 17:48



sábado, 9 de junho de 2012

Não reduzir salários com urgência

Não reduzir salários é urgente e imperativo. A não ser que sejam salários manifestamente sumptuosos das novas elites burguesas dominantes.

Reduzir salários, ao contrário que os agentes neo liberais nos querem impingir, não fará aumentar o emprego, e muito menos reduzirá a avalanche de desempregados que todos os meses impavidamente este governo da troika assiste.

O que devemos fazer então para aumentar a empregabilidade em Portugal e no resto da europa e acabar com este fado de austeridade?

1º Reformar as instituições que nos governam, coloca-las ao serviço dos cidadãos, e não ao serviço da alta finança, como por exemplo o BCE e o FEEF, que não actua em função do crescimento económico, mas sim pela pauta germânica da inflação.

2º Reformar a actuação do FMI, numa concertação com os países líderes, refazendo de cima a baixo a sua forma de actuar, não em função de uma recuperação dos empréstimos concedidos no cuto prazo, mas numa aposta de políticas de desenvolvimento, com novos princípios basilares enre os quais a luta contra as desigualdades sociais e económicas.

3º Reformar o BM (Banco Mundial) e o BEI (Banco Europeu para o Investimento) de forma a que tenha de facto um melhor enquadramento numa perspectiva de apoio a países com sólidos e correctos investimentos na área da saúde, educação, formação, emprego, jovens etc.

4º Reformar a OMC (Organização Mundial do Comércio), que após a 2ª segunda guerra mundial encetou um processo de globalização e liberalização do comércio, cuja consequência mais próxima é a retirada de milhões e milhões de euros de capacidade produtiva na europa, sendo uma das causas menos faladas do desemprego persistente na europa. Há que estabelecer novas metas, centrar novas áreas produtivas, Portugal sem indústria, não terá hipóteses de lutar contra o desemprego. Urge substituir importações, acima de tudo!

5º Controlar a banca de retalho e de investimento, proibir os movimentos meramente especulativos, permitir os estados terem participações previligiadas (golden shares) em toda a banca, para melhor controlo, e colocá-la ao serviço dos cidadãos, e não do lucro imediato e especulativo dos burgueses do costume. Basileia II e III não funcionam, é preciso mais.

Em suma, agora vai começar o Portugal - Alemanha, mas poderia continuar.

mais uma vez em suma, é preciso terminar com este capitalismo odioso e financeiro, e passarmos para um verdadeiro socialismo democrático e parlamentar.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

António Borges, John Maynard Keynes e Eugénio Rosa

Aparentemente o título deste texto parece estranho, mas existe algo em comum a todos, serem economistas.

António Borges, deu o mote a este texto, ao proclamar a urgencia de baixar salários em Portugal.

John Maynard Keynes deu o enquadramento teórico para fazer precisamente o oposto.

Eugénio Rosa, através dos seus excelentes estudos deu o enquadramento prático, para ainda outra vez fazer precisamente o oposto de António Borges.

De qualquer maneira o Keynesiano envergonhado, Cavaco Silva, por acaso também economista, preconiza precisamente o contrário de António Borges, defendendo o caminho da inovaçao e empreendedorismo para o sucesso de Portugal.

António Borges, consciencia parda da corrente clássica do sistema económico, da nao intervençao do estado, da auto regulaçao dos mercados, apenas está a ser coerente consigo mesmo e com a corrente económica que defende.

Para a teoria clássica o problema do desemprego é funçao da viscosidade dos próprios salários, demasiado empedernidos em contratos colectivos que nao permitem ajustamento para baixo quando existe uma forte crise económica.

As empresas, sem possibilidade de baixar salários, e perante uma crescente capacidade ociosa, preferem despedir, mesmo que tenham de pagar avultadas indemnizaçoes (quando pagam), e a criaçao liquida de emprego é negativa.

Ao contrário, se nao houvesse intervençao do estado nesta matéria, e o mercado laboral funcionasse por si mesmo, onde os salários eram apenas funçao da oferta e procura do momento, as crises nao passariam de ligeiros arrufos conjunturais, sem causar grandes danos, permitindo o mercado auto equilibrar-se, mas desta vez por baixo, com o nível de emprego hipotéticametne sem grandes oscilaçoes, mas os trabalhadores mais pobres e os burgueses, à medida que a economia voltasse a crescer acumulando, mais capital do que na situaçao imediatametne anterior, criando assim uma monstruosa transferencia de capital do factor trabalho, para o factor capital, e assim sucessivamente.

Esta é em suma a teoria clássica e a política de salários baixos de António Borges.

Contudo, a política de salários baixos destruiría o mercado interno, a capacidade aquisitiva dos trabalhadores, que num sistema capitalista, nao sao mais do os detentores da mao de obra de trabalho e igualmente consumidores que voltam a alimentar o ciclo capitalista produtivo.

A baixa de salários para aumentar a competitividade do país, para além de nao fomentar essa mesma competitividade, pois depende do nosso ponto de referencia, e sendo ele o chines ou similar, os salários teriam que baixar de tal modo que deixaria de compensar trabalhar. Mais ainda, e tendo ainda como referencia a china, com o exercito de reserva que este país tem, a fraca rede de protecçao que os trabalhadores tem, seria fácil para este país diminuir ainda mais os seus salários em caso de necessidade superveneinte.

Ao baixar os salários em Portugal, a destruiçao do mercado interno, íria provocar a falencia de ainda mais industrias e comércios, aumentar assim o desemprego, que tornaria totalemtne insustentável governar Portugal.

Segundo Keynes, o nível de emprego depende da procura efectiva medida em unidade de salários. Se, com uma procura efectiva dada, os empresários oferecessem um volume maior de emprego, os seus rendimentos seriam inferiores ao preço de oferta de emprego.

Como a procura efectiva é igual à soma do consumo esperado mais o investimento provável, as modificações na procura efectiva dependerão das modificações na eficiência marginal do capital, na taxa de juros e na propensão a consumir. Assim, para avaliar corretamente se uma redução dos salários nominais pode ou não afectar o volume de emprego é necessário analisar o seu impacto sobre estas três componentes da procura efectiva.

Em relação ao impacto de uma redução dos salários sobre a propensão a consumir, Keynes diz-nos  que  provavelmente será negativa para o nível de emprego. Aqui cabe distinguir duas situações. Na primeira, se uma redução dos salários gerar alguma pequena queda dos preços, haverá uma redistribuição da renda dos assalariados para os outros factores de produção e dos empresários para os rentistas (aqueles que possuem algum tipo de rendimento fixo em termos monetários).

Embora os efeitos sobre a propensão a consumir da redistribuição de renda dos empresários aos rentistas seja de difícil previsão, a dos trabalhadores a outros factores de produção terá o efeito de reduzir a propensão a consumir, já que Keynes supõe que eles possuem uma propensão marginal a consumir menor que a dos trabalhadores. Na segunda situação, se uma redução dos salários não alterar os níveis de preços, haverá uma redistribuição da renda em favor dos empresários, que terá por consequência também uma queda da propensão a consumir, uma vez que os empresários possuem uma propensão marginal a consumir menor que os trabalhadores.

A conclusão a que se pode chegar com base na exposição de Keynes é que a queda dos salários nominais dificilmente poderá levar a um aumento do emprego e, por extensão, a flexibilidade dos salários por si só não garante o pleno emprego. Entretanto, Keynes vai mais além, argumentando que todos os efeitos positivos que uma redução dos salários nominais poderia ter sobre o nível de emprego podem ser conseguidos muito mais facilmente, e mais eficazmente, por outros tipos de políticas económicas.

Como exemplo de uma política dessas, poderíamos citar uma política monetária expansionista ou um aumento dos gastos públicos. Além dessas políticas públicas serem mais eficazes que a redução dos salários nominais, elas são menos injustas e não trazem embutidos os riscos que a redução dos salários nominais possui, entre eles, a possibilidade de uma instabilização dos níveis de preços.

Um país como Portugal, onde um dos seus principais problemas é a tremenda desigualdade nos rendimentos, estando nos últimos lugares nos países da OCDE, medido pelo índice de gini, a reduçao de salários, reforçaria essa mesma desigualdade, criando uma pressao no chamado Estado Social, tornando-o completamente insutentável, levando para a miséria extrema milhoes de portugueses.

Só ideologias miseráveis, sustentadas por frases miseráveis poderao sustentar uma reduçao salarial em Portugal. No entanto, acredito frontalmente que existem salários neste país que nao tem qualquer correspondencia com os níveis de produtividade exigidos, protegidos por sectores de bens nao transacionáveis, pululam sempre como símbolo do século XXI da vil maneira de roubar os catrogas, borges e outros pseudo empresários.

Eugénio Rosa, no seu trabalho; "CUSTOS DO TRABALHO E PRODUTIVIDADE EM PORTUGAL E NOS PAÍSES DA UNIÃO EUROPEIA, O AGRAVAMENTO DAS DESIGUALDADES E DA RECESSÃO ECONÓMICA PROVOCADA PELA CEGUEIRA EM REDUZIR AINDA MAIS OS SALÁRIOS"; descreve-nos o quanto sao baixos os salários em Portugal, comparativamente com os demais países da Uniao Europeia.

E descreve-nos o autor; segundo o Eurostat, em 2011, o custo do trabalho por hora em Portugal, para toda a economia (não incluía a Administração Pública) correspondia a 52,4% do custo médio da União Europeia; a 30,8% do custo da hora do trabalho na Bélgica; a 40,2% do custo da hora de trabalho da Alemanha; e a 58,7% do custo da hora do trabalho na Espanha.

Só aqui vê-se vem os níveis salariais em Portugal e que só através do endividamento desmesurado consegui-se uma certa prosperidade económica. Urge portanto, desenvolver políticas que valorizem o factor trabalho, que façam de facto crescer os níveis salariais em Portugal, através de políticas de formaçao e informaçao efectivas, substituiçao de importaçoes por trabalho produzido em Portugal, aumentar o investimento público em investigaçao e desenvolvimento, apoiando mais as pequenas e médias empresas, as universidades, e dando luta aos monopólios instalados, a famílias predadoras da riqueza nacional e as suas parcerias públicas e privadas.

Ainda parafraseando Eugénio Rosa através de um texto de Robert Reich, ex- secretário de Estado do presidente Clinton, em “AFTER SHOC – A economia que se segue e o futuro da América”, “

Quando o rendimento está concentrado em relativamente poucas mãos, a procura global de bens e serviços contrai-se porque os muito ricos não gastam nem de perto tudo o que ganham. As poupanças deles são acumuladas, para circularem numa fúria de especulação ou, sobretudo nos nossos tempos, para serem investidos no estrangeiro

” Em Portugal com redução dos salários dos trabalhadores e com a destruição da classe média está-se a verificar uma aceleração rápida deste processo de concentração da riqueza em poucas mãos em que as privatizações a saldo e a protecção fiscal dos mais ricos são as faces mais visíveis e chocantes.

 





domingo, 3 de junho de 2012

"Se querem sair da crise, aumentem os salários"

Entrevista a Jan Toporowski, economista da London School of Oriental and African Studies, que esteve presente na Conferência Económica Internacional "Portugal na Encruzilhada da Europa", co-organizada em maio pelo Bloco de Esquerda e o Partido da Esquerda Europeia em Lisboa.
A crise da dívida apareceu depois da crise financeira. Quais as verdadeiras causas desta crise?
As verdadeiras causas da crise começaram em 2008, 2009. Foi quando o Banco Central Europeu - que refinancia a dívida dos governos - começou a financiar a compra dessa dívida ao preço definido pelos mercados. Antes disso, financiava a compra pelo seu valor nominal. Foi uma mudança nas práticas do BCE, que despoletou uma dinâmica desastrosa nos mercados. E aí nós apercebemo-nos que essa diferença de valores estava a ser paga pelo BCE e tornou-se cada vez maior. Em certa medida, isto tem a ver com o tamanho da dívida pública, que aumentou muito com a crise financeira. Os governos tiveram de financiar os bancos, que iriam à falência por causa das bolhas especulativas no imobiliário e nos mercados financeiros. O sistema financeiro europeu não estava preparado para esta coincidência de fatores. Não há na Europa o que há na Grã-Bretanha ou nos Estados Unidos: as pessoas sabem que por detrás do banco central está um governo e que os dois cooperam para ultrapassar a crise financeira.
Qual a razão de não existir esse enquadramento institucional na Europa?
Na Europa, esse enquadramento foi montado para imitar a situação alemã no pós-guerra e o papel do banco central europeu no pós guerra. Isto é uma situação invulgar que não existia em nenhum outro país na Europa. E por causa da estrutura da economia alemã, o banco central não tinha de intervir muito no pós-guerra e por isso parecia ser bem sucedido. Noutros países europeus, o enquadramento era diferente porque precisavam de uma cooperação mais próxima entre governo e banco central.
Com o início da crise, o BCE começou a emprestar dinheiro a bancos privados. Quais as consequências desta ação e como pode o BCE intervir em tempo de crise?
O que eles fizeram até pode ser entendido como certo à primeira vista: já que não podem emprestar dinheiro diretamente aos Estados, emprestaram aos bancos para estes emprestarem aos Estados indiretamente. Mas podiam ter feito coisas que não fizeram, como intervir de forma muito mais ativa no mercado secundário de obrigações para subir o seu preço. Ou voltar à anterior prática de manter descontos para obrigações da dívida pública ao seu valor real. Isso teria feito a diferença. Há uma outra solução muito simples: atribuir uma licença bancária a uma instituição pública, ou até privada, quer permitiria a essa instituição comprar ao BCE a juro baixo e investir em dívida pública a um juro mais alto. Isto iria dar liquidez ao mercado de obrigações da dívida.
Um dos argumentos para a recapitalização da banca é aumentar o crédito para a economia. Isto está a acontecer?
Eles compram dívida pública porque a banca privada na Europa não está a alargar os seus empréstimos. Por outras palavras, neste momento é muito lucrativo para a banca pedir emprestado ao BCE a juro baixo e comprar dívida pública com esse dinheiro. É isso que os bancos comerciais têm feito. Parece um investimento arriscado, porque há a ameaça de bancarrota, mas não há razão para que essa bancarrota aconteça ou para que os governos europeus não capitalizem os bancos comerciais e depois financiem esse capital com obrigações que esses bancos comprariam. Em princípio, isto pode fazer-se de acordo com as regras do FMI. Elas não impõem limites à dívida bruta dos governos e o FMI sempre insistiu que o número relevante é o da diferença entre a dívida do Estado e os ativos do Estado. Se fizermos isto, é possível começar a desenvolver condições de financiamento mais inovadoras, que apoiariam o mercado para as obrigações da dívida dos Estados.
O que pensa da receita da austeridade para resolver esta crise?
A austeridade não pode resolver a crise, só faz piorar a crise. Trata-se de uma falácia para quem pensa que as contas do Governo são como as contas lá de casa. Na realidade, os Estados precisam de se financiar de forma mais aventureira se querem dar estabilidade ao sistema financeiro.
E qual seria uma boa estratégia para países como Portugal e a Grécia?
Uma boa estratégia tem de ser contra-intuitiva: têm de começar por aumentar salários. Se aumentarem os salários, em especial os mais baixos, esse dinheiro será gasto na economia e reanimará a atividade económica e as receitas do Estado. Isto é muito difícil de fazer numa economia capitalista de mercado livre, mas podem fazer-se algumas coisas, como aumentar o salário mínimo e os salários dos funcionários públicos mais mal pagos, incentivar o emprego a tempo inteiro em vez de fragmentá-lo em empregos part-time. Isto teria um efeito positivo na atividade económica. Em segundo lugar, operações financeiras mais aventureiras para aguentar o mercado de obrigações da dívida. Isto é essencial para prevenir o colapso da banca. Precisamos disto para termos um sistema financeiro forte que possa apoiar as finanças do Estado.
Acha que Portugal ou a Grécia podem pagar a sua dívida nas condições que lhes estão a ser exigidas?
Não, não é possível. Ou melhor, há uma possibilidade: se criarem um imposto sobre os lucros bancários e usá-lo para pagar a dívida pública. É possível fazê-lo através de meios fiscais, mas para além disto não consigo imaginar outra maneira a curto prazo. A longo prazo é possível, se permitirmos o aumento da dívida pública e que o Governo possa gastar dinheiro até a inflação começar a aumentar e as receitas públicas aumentem a um ritmo superior ao crescimento da dívida. Isso causaria grande descontentamento na Europa, mas é uma maneira de o conseguir.
É favorável a uma reestruturação da dívida?
Sim, isso é essencial, mas penso que a reestruturação da dívida deve ser feita através de operações financeiras que transformem as dívidas com alto custo de financiamento em dívidas com baixo custo de financiamento. Isto é possível fazer e deve ser feito. Mas vamos ser claros: o nível de dívida pública na Europa não é assim tão alto. Se olharmos para os ativos de que dispõem os Estados, a dívida não é assim tão grande na Europa. Nunca nos podemos esquecer disto, apesar dos mercados já se terem esquecido. Foi a estupidez do Tratado de Maastricht, que impôs limites ao crescimento da dívida bruta em vez de limitar o crescimento da dívida líquida.
Nas próximas eleições gregas, estão a dizer aos eleitores que a opção é ficar no euro com a austeridade ou sair do euro. Não há uma terceira opção? E se a Grécia sair, o que acontece?
As escolhas não são essas, são falsas escolhas. Nos corredores do poder europeu discute-se a sobrevivência do sistema bancário. Se os governos entram em bancarrota, o seu sistema financeiro colapsa, porque os bancos gregos, portugueses, espanhóis e italianos têm muita dívida pública. Em certa medida, há aqui uma chantagem e contra-chantagem de ambos os lados. Não é preciso austeridade para ficar no euro. O que precisamos são formas inovadoras de financiamento, que são hoje dificultadas pelas restrições impostas aos bancos centrais na Europa.
Para além desse papel dos bancos centrais, o que teria de mudar na regulação dos mercados?
Em primeiro lugar, o BCE devia fazer o mesmo que fazem os bancos centrais britânico e norte-americano para apoiarem a dívida pública. E precisa agir de forma a controlar os mercados financeiros, quer através da regulação, quer comprando e vendendo nesses mercados, impedindo a especulação. É preciso impedir que os mercados financeiros continuem a arrasar a economia de tempos a tempos, como estão a fazer agora. Há uma necessidade real de controlar os mercados financeiros e este é um dos aspetos patológicos da crise atual: todo o problema está a ser escondido, porque quer os mercados, quer os governos, quer a troika, estão todos obcecados com a dívida pública.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Classes Sociais

Há cerca de 150 atrás Karl Marx enfatizou profundamente a dicotomia existente na sociedade do século 19. À nobreza e clero decadente e déspota despontava uma burguesia exploradora e cega. Criava-se o fosso entre entre os burgueses industriais e o proletariado que vendia a sua força de trabalho para sobreviver.

Na idade média, onde as trevas e o medo da religião afrontadora, alimentava nobrezas sedentas do sangue dos campesinos e um alto clero agarrado ao poder e demasiado comprometido com a hipócrisia do sistema vigente.

Hoje em dia a estratificação social é, na minha opinião, bem mais complexa do que Marx descreveu no século 19 e como observou-se na idade média.

A sociedade não se confina aos proletários e burgueses. Existem hoje em dia burgueses proletários e proletários burgueses.

No entanto emergiu de há uns anos a esta parte uma forte estratificação social na classe política.

É na classe política envolta das instituições chamadas partidos políticos que nascem e definham os agentes dessa estratificação. Assim penso que posso dividir a classe política em três classes distintas.

Os políticos de base
Os políticos médios
Os Políticos de topo.

Os políticos de base, empenhados e com aspirações de ascensão social via partido, labutam diariamente para conseguir algumas migalhas atiradas de cima. Geralmente não vivem da política, trabalham para viver, e nas horas vagas vão dando algum do seu tempo sempre à espera de uma porta para se abrir.
Geralmente estes políticos ficam posicionados em lugares não elegíveis para os parlamentos, e outros orgãos locais e nacionais, estão presentes simplesmente para fazer número, integram-se no jogo democrático, mas ficam sempre na rectaguarda.

Os políticos médios, já conseguiram um pouco mais de notoriedade, geralmente chegam a deputados municipais, vereadores, conseguem um cargo ou outro numa qualquer empresa municipal ou nacional. Se portarem bem podem almejar a subir de classe social, ou por vezes preferem jogar pelo seguro e ir ficando pela posição intermédia.

Os políticos de carreira, apadrinhados, ou orientados por barões partidários, organizando a sua vida orientando-se para chegar a altos cargos públicos, posicionam-se claramente na classe de políticos de topo.
Começam a delinear o percurso nas juventudes partidárias, associações estudantis de renome, ´vão tomando posição cada vez mais relevante. A vida real passa-lhes ao lado.
Chegam a cargos de deputados nacionais, ministros, secretários de estado, primeiro minsitro, banco de portugal, europa, enfim, espalham-se no conjunto de instituições que existem para servir o povo... e os políticos de topo.
Alguns encaram estar nesta classe social na política, com seriedade, honestidade e espiríto de missão pública.
Mas muitos deles, há um excelente livro que mostra claramente como 15 políticos portugueses enriqueceram depois de passarem na política de topo, usam a democracia, as instituições para manobrarem interesses, que numa sociedade de direito dariam em muitos casos cadeia.

Outros, no alto da sua ignorância simplesmente tornam ignóbil a sua função. Tal comprometidos com um sistema de castas, disfarçam mal a sua impreparação e compromisso.

O partido social democrata português deveria ser punido nacionalmente e internacionalmente por uso abusivo e indevido de nome. A SOCIAL DEMOCRACIA não é o que o PSD apregoa, aliás nunca foi, e agora muito menos. A SOCIAL DEMOCRACIA é algo muito sério muito diferente.



sábado, 21 de abril de 2012

O caminho para mais austeridade

Lendo este texto sobre a execução orçamental referente ao período entre Janeiro e Março do corrente ano, podemos concluir basicamente duas coisas:

1. Austeridade sobre austeridade resulta simplesmente numa contínua e persistente degradação das contas públicas, mau grado a prosápia bem falante dos políticos de direita, sempre prontos para desculpas mais ou menos elaboradas, que apenas visam desviar a atenção dos portugueses.

2. A degradação das contas públicas por via da austeridade irá provocar em breve novas políticas de austeridade, de forma a tentar atenuar ou até resolver o problema das contas públicas e o cumprimento dos objectivos negociados com a troica.

Há dias ouvi o ministro das finanças Vitor Gaspar dizer que as políticas expansionistas em Portugal nunca deram resultado, nunca criaram crescimento.

De facto sou obrigado a dar-lhe razão num sentido, sem capacidade produtiva, as políticas expansionistas apenas criam endividamento, desequilibrios quer a nível das cobntas públicas, quer a nível da balança de pagamentos.

Mas o que o ministro das finanças convenientemente esqueceu-se de dizer, é que uma adequada política económica direccionada para a produção, limitando a dependência externa de Portugal ao exterior, com políticas expansionistas devidamente afinadas ao ciclo económico seriam sem dúvida promotoras de mais emprego, mais receitas, e consequente crescimento económico com a devida justiça redistributiva.

Fonte Jornal Público edição de 21 de Abril de 2012

De acordo com a síntese de execução orçamental, hoje divulgada, o saldo global da Administração Central e da Segurança Social atingiu os -414,5 milhões de euros entre Janeiro e Março, o que compara com 558,4 milhões de euros positivos em igual período do ano passado.

Esta tendência reflecte-se, também, no défice do subsector Estado, cujo valor provisório se situou em 1637 milhões de euros no primeiro trimestre, o que compara com os 892 milhões no respectivo período homólogo. A contribuir para esta evolução está uma forte quebra da receita, mas também um aumento da despesa.

A receita total do Estado está a cair 4,4%, sobretudo à custa do abrandamento ou mesmo da quebra das receitas fiscais. Ao contrário da subida que o Governo está a prever para o global do ano, as receitas provenientes dos impostos estão a cair 5,85, tanto nos impostos directos (IRS e IRC) como nos indirectos (IVA, Imposto sobre Veículos e Imposto sobre Produtos Petrolíferos e Energéticos).

O Governo justifica esta evolução dizendo que a receita cobrada no primeiro trimestre não reflecte, “ainda, integralmente o efeito das medidas contempladas na Lei do Orçamento do Estado para 2012”.

O mesmo parece verificar-se na despesa, que está a crescer 3,5% no Estado. De acordo com o Executivo, esta subida foi influenciada pela transferência de cerca de 348 milhões de euros para a RTP, destinada à regularização de dívidas da estação.

A contribuir igualmente para o aumento da despesa estão os encargos com juros, que dispararam 221,5% no primeiro trimestre, uma tendência que o Executivo atribui a um forte efeito de base: é que, no primeiro trimestre de 2011, o montante de juros pagos foi muito inferior ao verificado no início deste ano.

A despesa corrente primária (que exclui esse efeito dos juros) está em linha com o previsto no Orçamento, apresentando uma queda de 3,8%.

O excedente da Segurança Social situou-se até Março em 278 milhões de euros. O montante é inferior em 301 milhões em relação ao saldo registado ao fim dos primeiros três meses do ano passado. Esta quebra do excedente em 55% resulta, em parte, de um aumento da despesa de 7,1%, por causa do aumento de pensões, subsídios de desemprego e apoios ao emprego.

O excedente do subsector dos Serviços e Fundos Autónomos, que inclui universidades, institutos públicos e hospitais, registou um excedente de 876,1 milhões de euros. Para este ligeiro aumento (de 0,59% em relação aos mesmos meses do ano passado) contribuiu a diminuição da despesa com a
“aquisição de bens e serviços pelo Sistema Nacional de Saúde e com as transferências de capital para entidades privadas”.

As Entidades Públicas Reclassificadas tiveram um saldo negativo de 68 milhões euros que o Governo justifica com a “cobertura de despesa de investimento e de encargos financeiros através de passivos financeiros”, nomeadamente pela REFER e a Estradas de Portugal.

domingo, 25 de março de 2012

Parcerias Público Privadas - A Auditoria do Governo e da Troika

A Troika ganhou um novo membro a Ernst & Young - Agora poder-se-á chamar o Quadrunvirato, para nos continuar a enganar... e assim vai Portugal feliz e docilmente com mais uma nova parceria publico privada, ou seja, uma parceria publico privada dentro das próprias parcerias publico privadas. É a sublimação das parcerias publico privadas.
 
Fonte: Jornal de Negócios - Jornalista Elisabete Miranda
Se a sabedoria popular voltar a acertar nas suas sentenças, o processo de auditoria às parcerias público-privadas (PPP) já dificilmente se endireita, para prejuízo dos nossos depauperados cofres públicos.

Se a sabedoria popular voltar a acertar nas suas sentenças, o processo de auditoria às parcerias público-privadas (PPP) já dificilmente se endireita, para prejuízo dos nossos depauperados cofres públicos.

A história começou por nascer torta com a bizarra pré-condição de que a revisão das PPP fosse liderada por uma empresa privada de dimensão internacional. Se em Portugal existe pelo menos uma vintena de pessoas no Estado com qualidades técnicas para fazer o trabalho, como nos garantia há uns meses Mariana Abrantes de Sousa, é incompreensível que Governo e troika tenham preferido manchar o processo com a suspeita do conflitos de interesses por causa de um preconceito esclerosado contra a Função Pública.

Os holofotes apontados à Ernst&Young pela "Iniciativa por uma Auditoria Cidadã à Dívida", e que terão posto o Tribunal de Contas de sobreaviso, ter-se-iam virado para qualquer outro seleccionado oriundo do sector privado, e a razão é simples. Não haverá consultora de vocação internacional, com presença no mercado interno, que não tenha mantido relações comerciais com os promotores de 36 PPP ou os bancos que os financiaram. E dificilmente haverá grande escritório de negócios que queira hipotecar perspectivas de frutuosas relações com os mesmos operadores, que é o que irremediavelmente acontecerá se chegarem a conclusões incómodas.

Outra inquinação do processo reside na falta de clareza sobre o resultado pretendido. Se o Governo persistir na ideia de que não se mudam contratos unilateralmente (com tudo o que não seja funcionário público, trabalhador e pensionista), então os 250 mil euros, que à partida até pareceriam um preço avaro para a relevância da empreitada, arriscam-se a redundar em mais um indecoroso desperdício de dinheiros públicos.

A auditoria só vale a pena se resultar em poupanças significativas nos contratos PPP, e elas só estão asseguradas se o Governo não manietar à partida a sua margem de manobra. Se a ambição máxima para o estudo se resumir à enunciação dos encargos do Estado, então o relatório da Direcção-geral do Tesouro, apontando para 26 mil milhões de euros de responsabilidades até 2040, seria um bom ponto de partida de trabalho – e devia ser aprofundado por quem o começou ou pela unidade técnica ontem anunciada.

No meio de tantos maus auspícios, uma coisa é certa: daqui a três meses, uma consultora privada concentrará nas suas mãos além de 36 contratos, que são públicos, coisas tão valiosas e, até agora sigilosas e com ordens de circulação restrita, como as propostas apresentadas por todos os concorrentes a todas as PPP, a descrição da situação financeira de cada entidade, tenha ou não ganho o concurso, ou as actas das reuniões internas, só para citar alguns exemplos que poderá encontrar detalhados na nossa edição de hoje.

Se a posição de partida do Estado para assegurar uma defesa decente do interesse público está longe de ser famosa, já para as auditoras até valeria a pena trabalhar de graça.


Jornalista
"Visto por dentro" é um espaço de opinião de jornalistas do Negócios

terça-feira, 6 de março de 2012

John Perkins. “Portugal está a ser assassinado, como muitos países do terceiro mundo já foram”

John Perkins. “Portugal está a ser assassinado, como muitos países do terceiro mundo já foram”



Por Sara Sanz Pinto, publicado em 3 Mar 2012 - 19:42
Actualizado há 2 dias 21 horas

Chamou-se a si próprio assassino económico no livro “Confessions of an Economic Hit Man”, que se tornou bestseller do “New York Times”

Em tempos consultor na empresa Chas. T. Main, John Perkins andou dez anos a fazer o que não devia, convencendo países do terceiro mundo a embarcar em projectos megalómanos, financiados com empréstimos gigantescos de bancos do primeiro mundo. Um dia, estava nas Caraíbas, percebeu que estava farto de negócios sujos e mudou de vida. Regressou a Boston e, para compensar os estragos que tinha feito, decidiu usar os seus conhecimentos para revelar ao mundo o jogo que se joga nos bastidores financeiros.
Como se passa de assassino económico a activista?

Em primeiro lugar é preciso passar-se por uma forte mudança de consciência e entender o papel que se andou a desempenhar. Levei algum tempo a compreender tudo isto. Fui um assassino económico durante dez anos e durante esse período achava que estava a agir bem. Foi o que me ensinaram e o que ainda ensinam nas faculdades de Gestão: planear grandes empréstimos para os países em desenvolvimento para estimular as suas economias. Mas o que vi foi que os projectos que estávamos a desenvolver, centrais hidroeléctricas, parques industriais, e outras coisas idênticas, estavam apenas a ajudar um grupo muito restrito de pessoas ricas nesses países, bem como as nossas próprias empresas, que estavam a ser pagas para os coordenar. Não estávamos a ajudar a maioria das pessoas desses países porque não tinham dinheiro para ter acesso à energia eléctrica, nem podiam trabalhar em parques industriais, porque estes não contratavam muitas pessoas. Ao mesmo tempo, essas pessoas estavam a tornar--se escravos, porque o seu país estava cada mais afundado em dívidas. E a economia, em vez de investir na educação, na saúde ou noutras áreas sociais, tinha de pagar a dívida. E a dívida nunca chega a ser paga na totalidade. No fim, o assassino económico regressa ao país e diz-lhes “Uma vez que não conseguem pagar o que nos devem, os vossos recursos, petróleo, ou o que quer que tenham, vão ser vendidos a um preço muito baixo às nossas empresas, sem quaisquer restrições sociais ou ambientais”. Ou então, “Vamos construir uma base militar na vossa terra”. E à medida que me fui apercebendo disto a minha consciência começou a mudar. Assim que tomei a decisão de que tinha de largar este emprego tudo foi mais fácil. E para diminuir o meu sentimento de culpa senti que precisava de me tornar um activista para transformar este mundo num local melhor, mais justo e sustentável através do conhecimento que adquiri. Nessa altura a minha mulher e eu tivemos um bebé. A minha filha nasceu em 1982 e costumava pensar como seria o mundo quando ela fosse adulta, caso continuássemos neste caminho. Hoje já tenho um neto de quatro anos, que é uma grande inspiração para mim e me permite compreender a necessidade de viver num sítio pacífico e sustentável.
Houve algum momento em particular em que tenha dito para si mesmo “não posso fazer mais isto”?

Sim, houve. Fui de férias num pequeno veleiro e estive nas Ilhas Virgens e nas Caraíbas. Numa dessas noites atraquei o barco e subi às ruínas de uma antiga plantação de cana-de-açúcar. O sítio era lindo, estava completamente sozinho, rodeado de buganvílias, a olhar para um maravilhoso pôr do Sol sobre as Caraíbas e sentia-me muito feliz. Mas de repente cheguei à conclusão que esta antiga plantação tinha sido construída sobre os ossos de milhares de escravos. E depois pensei como todo o hemisfério onde vivo foi erguido sobre os ossos de milhões de escravos. E tive também de admitir para mim mesmo que também eu era um esclavagista, porque o mundo que estava a construir, como assassino económico, consistia, basicamente, em escravizar pessoas em todo o mundo. E foi nesse preciso momento que me decidi a nunca mais voltar a fazê--lo. Regressei à sede da empresa onde trabalhava em Boston e demiti-me.
E qual foi a reacção deles?

De início ninguém acreditou em mim. Mas quando se aperceberam de que estava determinado tentaram demover-me. Fizeram-me propostas muito interessantes. Mas fui-me embora à mesma e deixei por completo de me envolver naquele tipo de negócios.
Diz que os assassinos económicos são profissionais altamente bem pagos que enganam os países subdesenvolvidos, recorrendo a armas como subornos, relatórios falsificados, extorsões, sexo e assassinatos. Pode explicar às pessoas que não leram o seu livro como tudo isto funciona?

Basicamente, aquilo que fazíamos era escolher um país, por exemplo a Indonésia, que na década de 70 achávamos que tinha muito petróleo do bom. Não tínhamos a certeza, mas pensávamos que sim. E também sabíamos que estávamos a perder a guerra no Vietname e acreditávamos no efeito dominó, ou seja, se o Vietname caísse nas mãos dos comunistas, a Indonésia e outros países iriam a seguir. Também sabíamos que a Indonésia tinha a maior população muçulmana do mundo e que estava prestes a aliar-se à União Soviética, e por isso queríamos trazer o país para o nosso lado. Fui à Indonésia no meu primeiro serviço e convenci o governo do país a pedir um enorme empréstimo ao Banco Mundial e a outros bancos, para construir o seu sistema eléctrico, centrais de energia e de transmissão e distribuição. Projectos gigantescos de produção de energia que de forma alguma ajudaram as pessoas pobres, porque estas não tinham dinheiro para pagar a electricidade, mas favoreceram muito os donos das empresas e os bancos e trouxeram a Indonésia para o nosso lado. Ao mesmo tempo, deixaram o país profundamente endividado, com uma dívida que, para ser refinanciada pelo Fundo Monetário Internacional, obrigou o governo a deixar as nossas empresas comprarem as empresas de serviços básicos de utilidade pública, as empresas de electricidade e de água, construir bases militares no seu território, entre outras coisas. Também acordámos algumas condicionantes, que garantiam que a Indonésia se mantinha do nosso lado, em vez de se virar para a União Soviética ou para outro país que hoje em dia seria provavelmente a China.
Trabalhou de muito perto com o Banco Mundial?

Muito, muito perto. Muito do dinheiro que tínhamos vinha do Banco Mundial ou de uma coligação de bancos que era, geralmente, liderada pelo Banco Mundial.
Sugere no seu livro que os líderes do Equador e do Panamá foram assassinados pelos Estados Unidos. No entanto, existem vários historiadores que defendem que isso não é verdade. O que acha que aconteceu com Jaime Roldós e Omar Torrijos?

Não existem provas sólidas quer do que aconteceu no Equador, com Roldós, quer do que se passou no Panamá, com Torrijos. Porém, existem muitas provas circunstanciais. Por exemplo, Roldós foi o primeiro a morrer, num desastre de avião em Maio de 1981, e a área do acidente foi vedada, ninguém podia ir ao local onde o avião se despenhou, excepto militares norte-americanos ou membros do governo local por eles designados. Nem a polícia podia lá entrar. Algumas testemunhas-chave do desastre morreram em acidentes estranhos antes de serem chamadas a depor. Um dos motores do avião foi enviado para a Suíça e os exames mostram que parou de funcionar quando estava ainda no ar e não ao chocar contra a montanha. Isto é, existem provas circunstanciais tremendas em torno desta morte, e além disso todos estavam à espera que Jaime Roldós fosse derrubado ou assassinado porque não estava a jogar o nosso jogo. Logo depois de o seu avião se ter despenhado, Omar Torrijos juntou a família toda e disse: “O meu amigo Jaime foi assassinado e eu vou ser o próximo, mas não se preocupem, alcancei os objectivos que queria alcançar, negociei com sucesso os tratados do canal com Jimmy Carter e esse canal pertence agora ao povo do Panamá, tal como deve ser. Por isso, depois de eu ser assassinado, devem sentir-se bem por tudo aquilo que conquistei.” A verdade é que os EUA, a CIA e pessoas como o Henry Kissinger admitiram que o nosso país tinha derrubado Salvador Allende, no Chile; Jacobo Arbenz, na Guatemala; Mohammed Mossadegh, no Irão; participámos no afastamento de Patrice Lumumba, no Congo; de Ngô Dinh Diem, no Vietname. Existem inúmeros documentos sobre a história dos EUA que provam que fizemos estas coisas e continuamos a fazê-las. Sabe-se que estivemos profundamente envolvidos, em 2009, no derrube no presidente Manuel Zelaya, nas Honduras, e na tentativa de afastar Rafael Correa, no Equador, também há não muito tempo. Os EUA admitiram muitas destas coisas e pensar que eles não estiveram envolvidos nos homicídios de Roldós e Torrijos... Estes dois homens foram assassinados quase da mesma forma, num espaço de três meses. Ambos tinham posições contrárias aos EUA e às suas empresas e estavam a assumir posições fortes para defender os seus povos – é pouco razoável pensar o contrário.
Algumas pessoas acusam-no de ser um teórico da conspiração. O que tem a dizer sobre isso?

Bem, não sou, de modo nenhum, um teórico da conspiração. Não acredito que exista uma pessoa ou um grupo de pessoas sentadas no topo a tomar todas as decisões. Mas torno muito claro no meu último livro, “Hoodwinked” (2009), e também em “Confessions of an Economic Hit Man” (2004) – editado em Portugal pela Pergaminho em 2007 com o título “Confissões de Um Mercenário Económico: a Face Oculta do Imperialismo Americano” –, que as multinacionais são movidas por um único objectivo que é maximizar os lucros, independentemente das consequências sociais e ambientais. Estes últimos são novos objectivos que não eram ensinados quando estudei Gestão, no final dos anos 60. Ensinaram-me que havia apenas este objectivo entre muitos outros, por exemplo tratar bem os funcionários, dar-lhes uma boa assistência na saúde e na reforma, ter boas relações com os clientes e os fornecedores, e também ser um bom cidadão, pagar impostos e fazer mais que isso, ajudar a construir escolas e bibliotecas. Tudo se agravou nos anos 70, quando Milton Friedman, da escola de economia de Chicago, veio dizer que a única responsabilidade no mundo dos negócios era maximizar os lucros, independentemente dos custos sociais e ambientais. E Ronald Reagan, Margaret Thatcher e muitos outros líderes mundiais convenceram-se disso desde então. Todas estas empresas são orientadas segundo este objectivo e quando alguma coisa o ameaça, seja um acordo de comércio multilateral seja outra coisa qualquer, juntam--se para garantir que o mesmo é protegido. Isto não é uma conspiração, uma conspiração é ilegal, isto que fazem não é. No entanto, é extremamente prejudicial para a economia mundial.
Também escreveu que o objectivo último dos EUA é construir um império global. Como vê a recente estratégia norte-americana contra a China e o Irão?


Actualmente, podemos dizer que o novo império não é tanto americano como formado por multinacionais. Penso que a ditadura das grandes empresas e dos seus líderes forma hoje a versão moderna desse império. Repito, isto não é uma conspiração, mas todos eles são movidos por esse objectivo de que falámos anteriormente.
Mas vários especialistas defendem que estamos num cenário de terceira guerra mundial, com a China, a Rússia e o Irão de um lado e os EUA, a União Europeia (UE) e Israel do outro. E que toda a conversa de Washington em torno do programa nuclear iraniano não passa de uma grande mentira.

Não acredito que todo este conflito seja motivado por armas nucleares. Na verdade, vários estudos recentes, alguns deles das mais respeitadas agências de informações norte-americanas, mostram que não existem armas nucleares no Irão. E acredito que tudo isto não se deve apenas aos recursos iranianos mas também à ameaça de Teerão de vender petróleo no mercado internacional numa moeda que não o dólar, uma ameaça também feita por Muammar Kadhafi, na Líbia, e Saddam Hussein, no Iraque. Os nort-americanos não gostam que ameacem o dólar e não gostam que ameacem o seu sistema bancário, algo que todos esses líderes fizeram – o líder do Irão, o líder do Iraque, o líder da Líbia. Derrubaram dois deles e o terceiro ainda lá está. Penso que é disto que se trata. Não tenho dúvidas de que a Rússia está a gostar de ver a agitação entre a UE e o Irão, porque Moscovo tem muito petróleo e, se os fornecedores iranianos deixarem de vender, o preço do petróleo vai subir, o que será uma grande ajuda para a Rússia. É difícil acreditar que qualquer destes países queira mesmo entrar numa terceira guerra mundial. No fundo, o que querem é estar constantemente a confundir as pessoas, parecendo que querem entrar em conflito e ajudar a alimentar as máquinas de guerra, porque isso ajuda uma série de grandes empresas.
Como durante a Guerra Fria?

Sim, como durante a Guerra Fria, porque isso é bom para os negócios. No fundo, estes países estão todos a servir os interesses das grandes empresas. Há algumas centenas de anos, a geopolítica era maioritariamente liderada por organizações religiosas; depois os governos assumiram esse poder. Agora chegámos à fase em que a geopolítica é conduzida em primeiro lugar pelas grandes multinacionais. E elas controlam mesmo os governos de todos os países importantes, incluindo a Rússia, a China e os EUA. A economia da China nunca poderia ter crescido da forma que cresceu se não tivesse estabelecido fortes parcerias com grandes multinacionais. E todos estes países são muito dependentes destas empresas, dos presidentes destas empresas, que gostam de baralhar as pessoas, porque constroem muitos mísseis e todo o tipo de armas de guerra. É uma economia gigante. A economia norte-americana está mais baseada nas forças armadas que noutra coisa qualquer. Representa a maior fatia do nosso orçamento oficial e uma parte maior ainda do nosso orçamento não oficial. Por isso tanto a guerra como a ameaça de guerra são muito boas para as grandes multinacionais. Mas não acredito que haja alguém que nos queira ver de facto entrar em guerra, dada a natureza das armas. Penso que todas as pessoas sabem que seria extremamente destrutivo.
Como avalia o trabalho de Barack Obama enquanto presidente dos EUA?

Penso que se esforçou muito por agir bem, mas está numa posição extremamente vulnerável. Assim que alguém entra na Casa Branca, sejam quais forem as suas ideias políticas, os seus motivos ou a sua consciência, sabe que é muito vulnerável e que o presidente dos EUA, ou de outro país importante, pode ser facilmente afastado. Nalgumas partes do mundo, como a Líbia ou o Irão, talvez só com balas o seu poder possa ser derrubado, mas em países como os EUA um líder pode ser afastado por um rumor ou uma acusação. O presidente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, ver a sua carreira destruída por uma empregada de quarto de um hotel, que o acusou de violação, foi um aviso muito forte a Obama e a outros líderes mundiais. Não estou a defender Strauss-Kahn – não faço a mínima ideia de qual é a verdade por trás do que aconteceu, mas o que sei é que bastou uma acusação de uma empregada de quarto para destruir a sua carreira, não só como director do FMI mas também como potencial presidente francês. Bill Clinton também foi afastado por um escândalo sexual, mas no tempo de John Kennedy estas coisas não derrubavam presidentes. Só as balas. Porém, descobrimos com Bill Clinton que um escândalo sexual – e não é preciso ser uma coisa muito excitante, porque aparentemente ele nem sequer teve sexo com a Monica Lewinsky, fizeram uma coisa qualquer com um charuto que já não me lembro – foi o suficiente para o descredibilizar. Por isso Obama está numa posição muito vulnerável e tem de jogar o jogo e fazer o melhor que pode dentro dessas limitações. Caso contrário, será destruído.
No fim do ano passado escreveu um artigo onde afirmava que a Grécia estava a ser atacada por assassinos económicos. Acha que Portugal está na mesma situação?

Sim, absolutamente, tal como aconteceu com a Islândia, a Irlanda, a Itália ou a Grécia. Estas técnicas já se revelaram eficazes no terceiro mundo, em países da América Latina, de África e zonas da Ásia, e agora estão a ser usadas com êxito contra países como Portugal. E também estão a ser usadas fortemente nos EUA contra os cidadãos e é por isso que temos o movimento Occupy. Mas a boa notícia é que as pessoas em todo o mundo estão a começar a compreender como tudo isto funciona. Estamos a ficar mais conscientes. As pessoas na Grécia reagiram, na Rússia manifestam-se contra Putin, os latino-americanos mudaram o seu subcontinente na última década ao escolher presidentes que lutam contra a ditadura das grandes empresas. Dez países, todos eles liderados por ditadores brutais durante grande parte da minha vida, têm agora líderes democraticamente eleitos com uma forte atitude contra a exploração. Por isso encorajo as pessoas de Portugal a lutar pela sua paz, a participar no seu futuro e a compreender que estão a ser enganadas. O vosso país está a ser saqueado por barões ladrões, tal como os EUA e grande parte do mundo foi roubado. E nós, as pessoas de todo o mundo, temos de nos revoltar contra os seus interesses. E esta revolução não exige violência armada, como as revoluções anteriores, porque não estamos a lutar contra os governos mas contra as empresas. E precisamos de entender que são muito dependentes de nós, são vulneráveis, e apenas existem e prosperam porque nós lhes compramos os seus produtos e serviços. Assim, quando nos manifestamos contra elas, quando as boicotamos, quando nos recusamos a comprar os seus produtos e enviamos emails a exigir-lhes que mudem e se tornem mais responsáveis em termos sociais e ambientais, isso tem um enorme impacto. E podemos mudar o mundo com estas atitudes e de uma forma relativamente pacífica.

Mas as próprias empresas deviam ver que a ditadura das multinacionais é um beco sem saída.

Bem, penso que está absolutamente certa. Há alguns meses estive a falar numa conferência para 4 mil CEO da indústria das telecomunicações em Istambul e vou regressar lá, dentro de um mês, para uma outra conferência de CEO e CFO de grandes empresas comerciais, e digo-lhes a mesma coisa. Falo muitas vezes com directores-executivos de empresas e sou muitas vezes chamado a dar palestras em universidades de Gestão ou para empresários e também lhes digo o mesmo. Aquilo que fizemos com esta economia mundial foi um fracasso. Não há dúvida. Um exemplo disso: 5% da população mundial vive nos EUA e, no entanto, consumimos cerca de 30% dos recursos mundiais, enquanto metade do mundo morre à fome ou está perto disso. Isto é um fracasso. Não é um modelo que possa ser replicado em Portugal, ou na China ou em qualquer lado. Seriam precisos mais cinco planetas sem pessoas para o podermos copiar. Estes países podem até querer reproduzi-lo, mas não conseguiriam. Por isso é um modelo falhado e você tem razão, porque vai acabar por se desmoronar. Por isso o desafio é como mudamos isto e como apelar às grandes empresas para fazerem estas mudanças. Obrigando-as e convencendo-as a ser mais sustentáveis em termos sociais e ambientais. Porque estas empresas somos basicamente nós, a maioria de nós trabalha para elas e todos compramos os seus produtos e serviços. Temos um enorme poder sobre elas. Por definição, uma espécie que não é sustentável extingue-se. Vivemos num sistema falhado e temos de criar um novo. O problema é que a maior parte dos executivos só pensa a curto prazo, não estão preocupados com o tipo de planeta que os seus filhos e os seus netos vão herdar.
Podemos afirmar que esta crise mundial foi provocada por assassinos económicos e rotular os líderes da troika como serial killers?

Penso que é justo dizer que os assassinos económicos são os homens de mão, nós, os soldados, e os presidentes das grandes multinacionais e de organizações como o Banco Mundial, o FMI ou Wall Street, os generais.
Ainda há dias o “Financial Times” divulgou que os gestores financeiros de Wall Street andavam a tomar testosterona para se tornarem ainda mais competitivos. Isto faz parte do beco sem saída de que está a falar?

A sério?! Ainda não tinha ouvido isso, mas não me surpreende nada. No entanto, aquilo que precisamos hoje em dia é de um lado feminino, temos de caminhar na direcção oposta e livrar-nos dessa testosterona. Precisamos de mais líderes mulheres, mulheres reais – não homens vestidos com roupas de mulher, por assim dizer – para trazerem com elas os valores de receptividade e do apoio e encorajarem os homens a cultivar isso neles próprios. Nós, homens, temos de estar muito mais ligados ao nosso lado feminino.
Se fôssemos apresentar esta crise económica à polícia, quem seriam os criminosos a acusar?

Pense em qualquer grande multinacional e à frente dessa multinacional estará alguém responsável pela ditadura empresarial, seja a Goldman Sachs, em Wall Street, seja a Shell, a Monsanto ou a Nike. Todos os líderes dessas empresas estão profundamente envolvidos em tudo isto e, da mesma forma, estão os líderes do FMI, do Banco Mundial e de outras grandes instituições bancárias. Detesto estar a dar nomes, estas pessoas estão sempre a mudar de emprego, por isso prefiro apontar os cargos. Eles estão sempre em rotação, por exemplo, o nosso antigo presidente, George W. Bush, veio da indústria petrolífera. A sua secretária de Estado, Condoleezza Rice, também veio da indústria petrolífera. Já Obama tem a sua política financeira concebida por Wall Street, maioritariamente pela Goldman Sachs. Mudaram-se da empresa para a actual administração norte-americana. A sua política de agricultura é feita por pessoas da Monsanto e de outras grandes empresas do sector. E a parte triste é que assim que o seu tempo expirar em Washington voltam para essas empresas. Vivemos num sistema incrivelmente corrupto. Aquilo a que chamamos política das portas giratórias é só uma outra designação de corrupção extrema.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

À procura da Verdade

Vale muito a pena ler este relatório do Levy Economics Institute sobre a crise do euro. Aqui fica um pequeno excerto: Retirado de Jugular (João Galamba) e Ladrões de Bicicletas em 27/02/2012
Conventional wisdom suggests that the European debt crisis, which has thus far led to severe adjustment programs crafted by the European Union and the International Monetary Fund in both Greece and Ireland, was caused by fiscal profligacy on the part of peripheral, or noncore, countries in combination with a welfare state model, and that the role of the common currency—the euro—was at best minimal. This paper aims to show that, contrary to conventional wisdom, the crisis in Europe is the result of an imbalance between core and noncore countries that is inherent in the euro economic model. Underpinned by a process of monetary unification and financial deregulation, core eurozone countries pursued export-led growth policies—or, more specifically, “beggar thy neighbor” policies—at the expense of mounting disequilibria and debt accumulation in the periphery. This imbalance became unsustainable, and this unsustainability was a causal factor in the global financial crisis of 2007–08. The paper also maintains that the eurozone could avoid cumulative imbalances by adopting John Maynard Keynes’s notion of the generalized banking principle (a fundamental principle of his clearing union proposal) as a central element of its monetary integration arrangement
http://www.levyinstitute.org/pubs/wp_702.pdf (Para ver o artigo completo)

Aconselho também, um pouco no seguimento deste:

European Economists for an Alternative Economic Policy in Europe
EuroMemo Group
European integration at the crossroads
Democratic deepening for stability, solidarity and social justice
– EuroMemorandum 2012 –