quinta-feira, 7 de junho de 2012

António Borges, John Maynard Keynes e Eugénio Rosa

Aparentemente o título deste texto parece estranho, mas existe algo em comum a todos, serem economistas.

António Borges, deu o mote a este texto, ao proclamar a urgencia de baixar salários em Portugal.

John Maynard Keynes deu o enquadramento teórico para fazer precisamente o oposto.

Eugénio Rosa, através dos seus excelentes estudos deu o enquadramento prático, para ainda outra vez fazer precisamente o oposto de António Borges.

De qualquer maneira o Keynesiano envergonhado, Cavaco Silva, por acaso também economista, preconiza precisamente o contrário de António Borges, defendendo o caminho da inovaçao e empreendedorismo para o sucesso de Portugal.

António Borges, consciencia parda da corrente clássica do sistema económico, da nao intervençao do estado, da auto regulaçao dos mercados, apenas está a ser coerente consigo mesmo e com a corrente económica que defende.

Para a teoria clássica o problema do desemprego é funçao da viscosidade dos próprios salários, demasiado empedernidos em contratos colectivos que nao permitem ajustamento para baixo quando existe uma forte crise económica.

As empresas, sem possibilidade de baixar salários, e perante uma crescente capacidade ociosa, preferem despedir, mesmo que tenham de pagar avultadas indemnizaçoes (quando pagam), e a criaçao liquida de emprego é negativa.

Ao contrário, se nao houvesse intervençao do estado nesta matéria, e o mercado laboral funcionasse por si mesmo, onde os salários eram apenas funçao da oferta e procura do momento, as crises nao passariam de ligeiros arrufos conjunturais, sem causar grandes danos, permitindo o mercado auto equilibrar-se, mas desta vez por baixo, com o nível de emprego hipotéticametne sem grandes oscilaçoes, mas os trabalhadores mais pobres e os burgueses, à medida que a economia voltasse a crescer acumulando, mais capital do que na situaçao imediatametne anterior, criando assim uma monstruosa transferencia de capital do factor trabalho, para o factor capital, e assim sucessivamente.

Esta é em suma a teoria clássica e a política de salários baixos de António Borges.

Contudo, a política de salários baixos destruiría o mercado interno, a capacidade aquisitiva dos trabalhadores, que num sistema capitalista, nao sao mais do os detentores da mao de obra de trabalho e igualmente consumidores que voltam a alimentar o ciclo capitalista produtivo.

A baixa de salários para aumentar a competitividade do país, para além de nao fomentar essa mesma competitividade, pois depende do nosso ponto de referencia, e sendo ele o chines ou similar, os salários teriam que baixar de tal modo que deixaria de compensar trabalhar. Mais ainda, e tendo ainda como referencia a china, com o exercito de reserva que este país tem, a fraca rede de protecçao que os trabalhadores tem, seria fácil para este país diminuir ainda mais os seus salários em caso de necessidade superveneinte.

Ao baixar os salários em Portugal, a destruiçao do mercado interno, íria provocar a falencia de ainda mais industrias e comércios, aumentar assim o desemprego, que tornaria totalemtne insustentável governar Portugal.

Segundo Keynes, o nível de emprego depende da procura efectiva medida em unidade de salários. Se, com uma procura efectiva dada, os empresários oferecessem um volume maior de emprego, os seus rendimentos seriam inferiores ao preço de oferta de emprego.

Como a procura efectiva é igual à soma do consumo esperado mais o investimento provável, as modificações na procura efectiva dependerão das modificações na eficiência marginal do capital, na taxa de juros e na propensão a consumir. Assim, para avaliar corretamente se uma redução dos salários nominais pode ou não afectar o volume de emprego é necessário analisar o seu impacto sobre estas três componentes da procura efectiva.

Em relação ao impacto de uma redução dos salários sobre a propensão a consumir, Keynes diz-nos  que  provavelmente será negativa para o nível de emprego. Aqui cabe distinguir duas situações. Na primeira, se uma redução dos salários gerar alguma pequena queda dos preços, haverá uma redistribuição da renda dos assalariados para os outros factores de produção e dos empresários para os rentistas (aqueles que possuem algum tipo de rendimento fixo em termos monetários).

Embora os efeitos sobre a propensão a consumir da redistribuição de renda dos empresários aos rentistas seja de difícil previsão, a dos trabalhadores a outros factores de produção terá o efeito de reduzir a propensão a consumir, já que Keynes supõe que eles possuem uma propensão marginal a consumir menor que a dos trabalhadores. Na segunda situação, se uma redução dos salários não alterar os níveis de preços, haverá uma redistribuição da renda em favor dos empresários, que terá por consequência também uma queda da propensão a consumir, uma vez que os empresários possuem uma propensão marginal a consumir menor que os trabalhadores.

A conclusão a que se pode chegar com base na exposição de Keynes é que a queda dos salários nominais dificilmente poderá levar a um aumento do emprego e, por extensão, a flexibilidade dos salários por si só não garante o pleno emprego. Entretanto, Keynes vai mais além, argumentando que todos os efeitos positivos que uma redução dos salários nominais poderia ter sobre o nível de emprego podem ser conseguidos muito mais facilmente, e mais eficazmente, por outros tipos de políticas económicas.

Como exemplo de uma política dessas, poderíamos citar uma política monetária expansionista ou um aumento dos gastos públicos. Além dessas políticas públicas serem mais eficazes que a redução dos salários nominais, elas são menos injustas e não trazem embutidos os riscos que a redução dos salários nominais possui, entre eles, a possibilidade de uma instabilização dos níveis de preços.

Um país como Portugal, onde um dos seus principais problemas é a tremenda desigualdade nos rendimentos, estando nos últimos lugares nos países da OCDE, medido pelo índice de gini, a reduçao de salários, reforçaria essa mesma desigualdade, criando uma pressao no chamado Estado Social, tornando-o completamente insutentável, levando para a miséria extrema milhoes de portugueses.

Só ideologias miseráveis, sustentadas por frases miseráveis poderao sustentar uma reduçao salarial em Portugal. No entanto, acredito frontalmente que existem salários neste país que nao tem qualquer correspondencia com os níveis de produtividade exigidos, protegidos por sectores de bens nao transacionáveis, pululam sempre como símbolo do século XXI da vil maneira de roubar os catrogas, borges e outros pseudo empresários.

Eugénio Rosa, no seu trabalho; "CUSTOS DO TRABALHO E PRODUTIVIDADE EM PORTUGAL E NOS PAÍSES DA UNIÃO EUROPEIA, O AGRAVAMENTO DAS DESIGUALDADES E DA RECESSÃO ECONÓMICA PROVOCADA PELA CEGUEIRA EM REDUZIR AINDA MAIS OS SALÁRIOS"; descreve-nos o quanto sao baixos os salários em Portugal, comparativamente com os demais países da Uniao Europeia.

E descreve-nos o autor; segundo o Eurostat, em 2011, o custo do trabalho por hora em Portugal, para toda a economia (não incluía a Administração Pública) correspondia a 52,4% do custo médio da União Europeia; a 30,8% do custo da hora do trabalho na Bélgica; a 40,2% do custo da hora de trabalho da Alemanha; e a 58,7% do custo da hora do trabalho na Espanha.

Só aqui vê-se vem os níveis salariais em Portugal e que só através do endividamento desmesurado consegui-se uma certa prosperidade económica. Urge portanto, desenvolver políticas que valorizem o factor trabalho, que façam de facto crescer os níveis salariais em Portugal, através de políticas de formaçao e informaçao efectivas, substituiçao de importaçoes por trabalho produzido em Portugal, aumentar o investimento público em investigaçao e desenvolvimento, apoiando mais as pequenas e médias empresas, as universidades, e dando luta aos monopólios instalados, a famílias predadoras da riqueza nacional e as suas parcerias públicas e privadas.

Ainda parafraseando Eugénio Rosa através de um texto de Robert Reich, ex- secretário de Estado do presidente Clinton, em “AFTER SHOC – A economia que se segue e o futuro da América”, “

Quando o rendimento está concentrado em relativamente poucas mãos, a procura global de bens e serviços contrai-se porque os muito ricos não gastam nem de perto tudo o que ganham. As poupanças deles são acumuladas, para circularem numa fúria de especulação ou, sobretudo nos nossos tempos, para serem investidos no estrangeiro

” Em Portugal com redução dos salários dos trabalhadores e com a destruição da classe média está-se a verificar uma aceleração rápida deste processo de concentração da riqueza em poucas mãos em que as privatizações a saldo e a protecção fiscal dos mais ricos são as faces mais visíveis e chocantes.

 





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