quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Economia - Economistas Aterrados Parte I-A

1. Falsa Certeza - Os mercados financeiros são eficientes. (1ª Parte)
Dei por mim a ler a revista Courrier Internacional, na sua edição de Novembro de 2010, e o seu excelente trabalho sobre o Estado Social, e decidi debruçar-me nos próximos artigos, a um tema, melhor dizendo, um manifesto de um conjunto de economistas, apelidados de aterrados sobre a qualidade do debate económico. Estes economistas, Philippe Askenazy, Thomas Coutrot, André Orléan e Henry Sterdyniak, lançaram uma petição intitulada "Manifesto dos economistas aterrados." Para saber mais: http://www.slideshare.net/MMDP/manifeste-deconomistes-atterres
Estes investigadores produziram uma lista de 10 pontos a que chamam "as falsas certezas económicas", cuja consequência mais grave, é produzirem para a sociedade em geral medidas injustas e ineficazes. A chamada ortodoxia liberal, com os seus dogmas de desregulamentação de mercados, planos de austeridade, já identificado por André Orléan através do seu livro "Le Pouvoir de la Finance) O poder da finança.
É neste contexto, que os meus próximos artigos neste blogue, serão dedicados a comentar, e quiçá acrescentar, tendo em conta a minha própria perspectiva pessoal, as 10 falsas certezas, e as respectivas 22 oportunas contrapropostas, feitas pelos investigadores acima citados.
A primeira falsa certeza que nos tentam impingir é que os mercados financeiros são eficientes.
Nesta matéria os investigadores propõem 4 medidas:
"1. Circunscrever com grande rigor os mercados financeiros e as actividades dos agentes financeiros, proibir que os bancos especulem por conta própria, para evitar a propagação das bolhas e do crash financeiro."
Aqui, neste ponto, só um grande consenso internacional poderá deter o curso destruidor da alta finança internacional, e voltar a trazer a economia real, das pessoas, do humanismo, ao centro das atenções e decisões políticas.
Sobre a especulação, gostaria de contar uma pequena história para a explicar: num determinado país à beira mar plantado havia demasiados banqueiros, gorduchos e abastados, a fumar permanentemente charuto. Um belo dia, chegou um indivíduo a esse país, e decidiu oferecer aos seus habitantes, 100 euros por cada banqueiro que os seus habitantes apanhassem.
Entusiasmados pela oferta, iniciou-se a caça ao banqueiro. Esse estranho indivíduo comprou centenas de banqueiros por 100 euros, e o esforço de caça ao banqueiro diminuiu.
O indivíduo regressou e para incentivar os habitantes a continuarem a caça ao banqueiro, decidiu oferecer 150 euros por cada banqueiro caçado. A caça voltou a aumentar, contrapondo com a maior escassez de banqueiros disponíveis, fazendo diminuir outra vez a caça ao banqueiro.
Ainda assim, o comprador de banqueiros, aumentou a sua oferta para 175 euros, mas a quantidade de banqueiros disponíves a serem caçados era tão baixa que já não havia interesse na caça.
Outro belo dia, o investidor (comprador de banqueiros), decidiu ir embora, sem no entanto oferecer 200 euros por cada banqueiro, deixando o seu secretário particular a gerir o negócio de compra de banqueiros.
Tendo em conta, mesmo ao preço a 200 euros, a escassez de banqueiros, desincentivava a caça dos mesmos. O secretário, propôs então vender os banqueiros que entretanto tinha em seu poder aos habitantes, e que haviam sido comprados antes aos preços mencionados, ao novo preço de 150 euros, e quando o misterioso indivíduo voltasse, os habitantes venderiam os banqueiros outra vez ao preço de 200 euros.
Através desta parábola, sintetizo o jogo financeiro de mil de milhões de euros, dólares, yenes, entre outros, que vão sendo transferidos de mão em mão, apenas através de manipulação de preços, oferta e procura de activos financeiros, sem acrescentar nada de positivo à sociedade em geral, correndo livremente pelo mundo com controlos inexistentes, ineficazes ou reduzidos, provocando bolhas especulativas que degeneram em crises de liquidez, contangiando a economia real, a confiança da sociedade, e minando o Estado Social e Humanista.
Como pretendo artigos razoavelmente curtos, voltarei no próximo artigo com as medidas 2, 3 e 4 da falsa certeza 1. que lembro - Os mercado financeiros são (in)eficientes.

sábado, 30 de outubro de 2010

Actualidade - Pouca Vergonha II

O desplante, o assalto, a arrogância e a irracionalidade económica continuam na ordem do dia, neste país de inúmeros políticos mesquinhos apenas preocupados em roubar o erário público, e por consequência os cidadãos.
Não vou perder muitas linhas neste "post". O assunto não merece mais do que isso, de tão nojento que é.
A Fundação Capital Europeia da Cultura de Guimarães gasta em remunerações anuais 600 mil euros aos seus administradores. Agora percebo porque se desenvolvem eventos desta natureza pelo país fora.
Só a presidente do conselho de administração aufere por mês cerca de 14.200 euros, mais mordomias como carro e telemóvel.
Note-se que esta decisão foi tomada pela Câmara Municipal de Guimarães, por isso, o culpado tem um rosto, António Magalhães. Foi António Magalhães, que mesmo com crise ou sem crise, o salário é descomunal em ambas situações, decidiu que a FCG deveria gastar 600 mil euros por ano. Mas alguém dê uma lição de gestão, ética e boas práticas, mas acima de tudo de bom senso a este homem. Ah ! Já me esquecia, este senhor não aceita lições de ninguém, presumo por isso que ou é analfabeto, ou auto didacta, pois ignorante e arrogante já ninguém lhe tira o ceptro.
E assim continua este lindo país de brando costumes, a enriquecer meia dúzia de personalidades à custa de pão e circo (vulgo Capital Europeia da Cultura e outros eventos que por esse país se produzem).
Soluções: cumpre-se criar uma tabela salarial justa, equitativa, equilibrada para os gestores, consultores e outras figuras participativas nestes eventos, com um âmbito alargado a gestores de empresas públicas, fundações e outras situações. Senão tudo isto não passa de uma grande palhaçada.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Gestão - Decisões e pouca vergonha

Neste capitalismo maravilhoso em que vivemos, que o belo e formoso mercado funciona placidamente, dando igualdade de oportunidades a todos para termos sucesso, todos somos iguais, mas uns são mais iguais que os outros.
A fronteira entre o roubo do erário público e a adopção de modelos de gestão com pacotes de incentivos aos mais altos cargos, de forma a fixar os melhores nas maiores empresas, é uma linha muito ténue, por isso temos que marcar uma fronteira bem definida e devidamente fundamentada.
A criação da complexidade jurídica das empresas públicas com autonomia financeira cria espaços em branco que dá azo a essa linha de fronteira. Ao mesmo nível estão as entidade reguladoras como a ANACOM. Não pretendo com este texto fazer um ataque à ANACOM, tem de certeza um papel meritório e relevante na sociedade Portuguesa. Serve-me apenas de exemplo de muitas ANACOM's que pululam no país, enredadas em teias jurídicas de empresas públicas, autónomas, que se permitem ter Conselhos de Administração com salários superiores a 2 vezes e tal o salário do Presidente da República, ou 3 vezes mais que o próprio Ministro que tutela o organismo.
Mas o mais curioso, é que os luxuosos salários das ANACOM's Portuguesas são decididos por despacho pelos próprios ministros, abrindo assim a caixa de pandora dos "jobs for the boys".
Assim, a tal linha ténue desfaz-se. Sei que é fácil criticar o salário do presidente do concelho de administração da ANACOM, 16.704,10 € mês, e dos restantes mosqueteiros da gruta de Ali Bába, 14.198,49 €. (Relatório e Contas da ANACOM 2009), cujo total ascende 1.051.940,00 €. Apenas 5 pessoas, sublinhe-se.
No entanto, esse mesmo facilitísmo da crítica não me inibe de questionar a razão de tão chorudos rendimentos, seja qual for o nível de responsabilidade, que certamente não é, maior que o ministro que tutela. (mesmo sendo um mau ministro, como habitualmente são).
Esse mesmo caminho é a face da mesma moeda que tem do seu lado oposto a POUCA VERGONHA, de auferir um salário desta magnitude. Que contributo tão excelso fazem estes iluminados da modernidade para poderem pacturar com tal roubo, pois não tenho dúvidas de que é isso que se trata.
Os meus parcos conhecimentos em gestão permitem-me pensar que o equílibrio, a razoabilidade, e o respeito da hierarquia e responsabilidade devem contruibuir para a formação do salário de um trabalhador, em paralelo com a sua produtividade, formação, criatividade etc etc.
Partindo deste princípio, e porque aqui relevo em particular o princípio da razoabilidade, do equilibrio e hierarquia, se o problema for o estatuto público destes gestores de luxo, equipará-los ao vencimento de um deputado (cerca de 3.708,00 €) e os restantes membros cerca de 3.200,00 €, seria mais que suficiente para uma vida digna, resguardando-se o princípio do equilibrio, da razoabilidade e da hierarquia.
Como tal, desde já como cidadão Português de pleno direito candidato-me ao lugar de Presidente do Concelho de Administração da ANACOM, tendo como primeira medida reduzir o Concelho de Administração de 5 para 3 pessoas. A poupança efectiva e real, neste tempo de crise, seria de 1.051.940,00 € actualmente, para 141.512 € em salários da administração, para 2011 gerando uma poupança de 910.428,00 €, perto de 1.000.000,00 €.
Será justo? Será Razoável? Será Equilibrado? Será Merecedor? Eu tenho a certeza que sim, e que tal aplicar esta medida a todas as outras empresas.
E a procissão ainda vai no adro.

domingo, 10 de outubro de 2010

Democracia e mercados

Em Outubro de 2009 os portugueses decidiram, em eleições livres e democráticas, mau grado a disparídade de meios usados pelas diferentes forças políticas na campanha eleitoral, que o partido socialista de José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa formaria governo sem maioria parlamentar. Assim, e conforme reza a Constituição da República Portuguesa e os demais elementares preceitos da Democracia, a Assembleia da República seria formada por uma diversidade de partidos, o qual, o partido vencedor, sozinho, não poderia aprovar o conjunto de leis e resoluções, incluíndo a Lei do Orçamento de Estado, sem a contribuição de um ou mais partidos constituídos na Assembleia da República, conforme a vontade soberana do povo português.
O Orçamento de Estado, será provavelmente o principal instrumento de política económica, social e demais intervenção do Estado na economia, e está sujeito à aprovação dos representantes eleitos pelos portugueses em Outubro de 2009. Foi esta a decisão dos portugueses em 2009.
Num cenário destes é natural que existam diversas propostas, do governo, que tem a obrigação de elaborar a proposta de Orçamento de Estado e das oposições concordarem ou não das propostas exaradas pelo governo, e mais, em caso de discordância, desenvolver o seu conjunto de propostas com vista a serem discutidas no local próprio, a Assembleia da República.
Dada a crise internacional em que vivemos, e em particular a crise de endividamento que Portugal enferma, surge uma terceira entidade, para além do governo e dos representantes do povo português. O mercado. Essa entidade parece não valorizar a Democracia, à normal discussão política do Orçamento de Estado em Portugal, responde com o aumento das taxas de juro, mesmo com as fortes medidas de austeridade propostas por Teixeira dos Santos, Ministro das Finanças de Portugal.
Apesar dos receios do mercado, de instabilidade política em Portugal, que poderão levar à não aprovação do Orçamento, e a consequente possível demissão do governo, a procura de títulos de dívida pública portuguesa tem ultrapassado a oferta, a última, a procura superou a oferta em 3 vezes. Eis a especulação financeira no seu melhor, sabendo-se que as taxas de juros são contínuamente pressionadas para subir, apesar do fundo de garantia europeu.
Os nossos impostos vão pagando o enriquecimento especulativo dos compradores de dívida pública.
A normal discussão pública do Orçamento de Estado onde deveriam ser confrontadas as diversas propostas, característica fundamental da Democracia, vai sendo paulatinamente substítuida pela imposição dos mercados financeiros, pelo dogma da política económica vigente da teoria dos mercados (in)eficientes.
À medida que a Democracia se aprofunda, com a discussão, repito, normal do Orçamento de Estado, o custo dos juros ao erário público sobe... será que a Democracia tem agora um preço, definido e imposto pelos mercados ?
A colocação de dívida pública dos Estados Europeus, incluíndo a de Portugal não permite a sua monetarização, ou seja, os Estados da moeda única não podem simplesmente e com regras bem definidas, financiarem-se directamente no Banco Central Europeu. O que obriga os Estados a colocarem as suas Obrigações do Tesouro e Bilhetes do Tesouro no mercado globalizado sujeito a humores diversos, emitidos pelas incompetentes agências de rating, lembre-se, instituições com uma grande responsabilidade na crise de 2008, ao darem notações máximas àquilo que depois se veio a verificar como produtos tóxicos, atrevem-se agora a opinar, com fundamentos de um tal secretismo, sobre a capacidade de cumprimento das dívidas dos Estados.
A Democracia, boa ou má, assenta na decisão popular, deve e pode ser melhorada, os mercados assentam na ganância, na impessoalidade, na desregulação, em suma, infelizmente neste momento DEMOCRACIA 0 - MERCADOS 1-

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Economia - O tempo que faz na Economia

Saíram as linhas gerais do orçamento de estado para 2011 proposto pelo Governo.
Já muitos economistas, e outros comentadores falaram dos vários aspectos, aumento de impostos, redução da despesa a todos os níveis. Parece-me que todos são unânimes nas consequências negativas para a economia, pelo menos no curto prazo. Mais desemprego provocado por mais recessão, provocado por menos consumo.
O próprio FMI produziu um relatório que aferiu que a utilização de 1% de políticas contracionistas na economia, provoca 0,33 % de aumento do desemprego. Teme-se por isso que a taxa de desemprego em Portugal em 2011 possa chegar a valores entre os 12% a 15%.
Esta situação irá provocar quebra de consumo, aumento das despesas sociais, falências, quebra na arrecadação de receitas. Mas os especuladores nos mercados internacionais continuarão a ganhar à custa de taxas de juro, especulativas, deformadas por informações deformadas pelas chamadas empresas de notação de rating.
Tudo isto é provocado pela necessidade imperiosa de atingir o deficit orçamental de 3% em 2013, ou 2,8 % conforme está no PEC.
Isto implica um esforço monumental, ainda dentro do próprio "olho do furacão", centro da crise, que obrigou a um esforço em prestações sociais "estabilizadores automáticos" em paralelo com um crescimento anémico e inexpressivo.
Assim a questão TEMPO passa a ser fundamental na análise económica. Ou seja, em vez de definir um espaço temporal de 2010 a 2013 para ajustar o deficit, porque não aumentar esse espaço temporal para 2015...desde que o PEC apresentado nesta modalidade fosse certificado, e mostra-se a devida autenticidade. As restrições que agora vamos ser sujeitos, podem causar ainda mais dano, e provocar uma recessão de longo prazo, do tipo Japonês, que sofre de crescimento anémico à mais de uma década.
Talvez aumentando o prazo de redução de deficit, com uma redução da despesa, efectuada de uma forma estrutural, bem pensada, através de um orçamento de base zero, pudesse ser uma hipótese a considerar, conjugado com a revogação da lei que impede os Estados de monetarização da dívida, ou seja, de se puderem financiar directamente no Banco Central Europeu às taxas de juro vigentes (1%) neste momento, torneando, e reduzindo a especulação financeira, paga também pelos nossos impostos, que seriam mais bem aplicados, em melhores hospitais, escolas e políticas de fomento económico.

domingo, 5 de setembro de 2010

Actualidades - Competitividade e Bom Senso

Sinais dos tempos... Li na edição do passado Sábado (4/09/2010 - JN) numa pequeníssima nota, quase imperceptível, que Michael O'leary, CEO da conhecida companhia aérea Rynair, defende, que um só piloto nas viagens da Rynair é suficiente. Pergunta imediata do jornalista, e que penso, seria a pergunta que nos assolaria a todos... e se o piloto tivesse um ataque cardíaco ? Resposta pronta, do CEO, típica de um homem de sucesso e exímio entendedor do ramo e das práticas mais modernas de Gestão, "teríamos um membro da tripulação da Rynair preparado para aterrar o avião. Ou seja, teríamos uma hospedeira a aterrar um avião. Entretanto poderia servir uns "whiskesinhos" com valiuns para evitar sessões de pánico nos passageiros.
A intenção do CEO da Rynair é clara, reduzir custos, reduzindo preços, ou mantendo os preços, aumentando os lucros... em suma aumentar a competitividade da empresa, posicionando-a num patamar superior relativamente aos seus concorrentes.
Já agora, seria possível sem piloto... talvez apenas o piloto automático daria conta do recado, pelo menos esse não teria ataques cardíacos, e pelos vistos é assim que a nossa selecção joga.
Poderemos criticar o CEO da Rynair? À luz das novas tendências da economia e da gestão, liberalização e desregulamentação dos mercados, aumento da produtividade e da competitividade empresarial, num mundo cada vez mais global e concorrêncial, Michael O'leary apenas aplica no terreno essas receitas.
Já agora poderíamos ter num bloco operatório, apenas o cirurgião, dispensa-se o anestesista, e outros médicos e enfermeiros altamente especializados e, caso o médico cirurgião tivesse um ataque cardíaco, chamava-se a mulher da limpeza para finalizar a dita operação. A redução de custos na saúde seriam astronómicos.
A cegueira neo-liberal leva-nos a expor-nos ao rídiculo, provavelmente Michael O´leary estudou a lei das probabilidades, de um piloto ter um ataque cardíaco, ou outra maleita que o impedisse de pilotar o avião, e concluiu que a probabilidade encontra-se nos extremos da curva de Gauss em forma de sino, ou seja, muito pouco provável.
Neste pressuposto, com os cifrões brilhando nos seus olhos, Michael O'leary, pressionará agora a autoridade para a segurança aérea para aprovar esta nova prática. Não sabemos que efeito multiplicador a norma terá nas outras companhias aéreas, mas a vantagem competitiva que O'leary tenta alcançar, num mercado competitivo e concorrencial como este, será "sol de pouca dura", a não ser que as outras companhias aéreas tenham um assomo de sensibilidade e bom senso (excelente filme, já agora).
Imagino uma hospedeira, sem qualquer experiência de voo, com umas lições em simulador, e quiçá, uma ou outra aterragem, com um piloto verdadeiro ao lado, entre servir umas bebidas, ou a comida de plástico da praxe, a correr para a cabine, porque o piloto se está a sentir mal.
De repente está a braços com um "bicharoco" de não sei quantas toneladas, à procura de uma pista para aterrar, discutindo com a torre de controlo, dizendo que vê muitas luzinhas acessas e outras apagadas, e que lhe estão a chamar do lugar 23 F, pois, estão a pedir um sumo de laranja.
A procura da competitividade e de maiores níveis de produtividade é perfeitamente legítima e saudável, contudo, nunca à custa de direitos fundamentais dos trabalhadores, dos clientes (neste caso passageiros), entre os quais, um deles, elevados padrões de segurança.
Aquilo que está a acontecer no Chile aos 33 mineiros, não é só um fenómeno natural. É a demissão do Estado na vistoria, na entrega a sectores privados doentiamente gananciosos, que descuram os mais básicos conceitos de segurança, como a falta de uma escada que impediram os mineiros de subir, a troco de salários de miséria, arriscando as suas vidas todos os dias, para os capitalistas do costume açambarcarem sem dó nem piedade o fruto do trabalho de outros.
São estas pequenas grandes coisas, como o exemplo da Rynair, que vão moldando, e mostrando a sociedade que temos, a desumanização, a recuperação de conceitos darwinistas, a individualização da sociedade, que só nos levarão há anarquia, egoísmo e retrocesso civilizacional.
Sinais dos tempos...

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Actualidades - A publicidade de Guimarães

Em vez de escrever actualidades no título, estive a pensar em colocar frivolidades. Mas não seria esse o objectivo.
Confesso que o meu profundo amor pela cidade que não me viu nascer, mas acolheu-me ainda no berço de 5 meses de vida, na primavera de 1970, e que até hoje, continua a ser a minha cidade de sempre, por tudo e mais alguma coisa, poderá prejudicar o distanciamento e o discernimento que deveria ter na emissão da opinião seguinte. Por isso faço este ponto de ordem inicial.
Vi e ouvi, com espanto uma entidade, penso que ligada ao turismo do Algarve a insurgir-se, com manifesta indignação sobre determinada publicidade que a Fundação Guimarães Capital Europeia da Cultura 2012, decidiu colocar nos escaparates nacionais.
A foto mostra uma praia vazia em pleno verão, dando a entender que em 2012 todos os caminhos vão dar a Guimarães, e que portanto, as praias do Algarve que se cuidem que vão estar completamente vazias, à custa da Capital Europeia da Cultura. Guimarães vai sofrer uma enchente humana de proporções bíblicas, não será possível andar, conduzir...em suma viver em Guimarães, tal vai ser a quantidade de curiosos a assistir aos eventos da Capital Europeia.
Os comentários desse organismo de turismo do Algarve, passam desde revolta, até, imagine-se um eventual pedido de indemnização.
De tão rídicula exposição desta posição, por parte de um responsável pelo turismo Algarvio, que quem deveria pedir uma indemnização por perdas e danos seria a Fundação Guimarães por difamação e exposição ao rídiculo, que pode chegar ao ponto de levar os turistas a procurarem outras paragens que nem seja Algarve e Guimarães.
O sentido da mensagem da Fundação Guimarães é bem clara, tenta chamar atenção pelo "non sense", por uma situação limite, de forma a precisamente captar o interesse do público em geral.
Não tem quaisquer segundas intenções, de diminuir, ridicularizar, ou qualquer outra, que não seja, através de um certo humor e boa disposição, chamar a atenção das pessoas.
Mas parece que para esse organismo Algarvio, a caparuça serviu. Já agora era interessante saber quanto dinheiro que o Estado gasta por ano na promoção do "ALLgarve", e que é pago por todos nós. Já agora, como se têm sentido os turistos Portugueses, do norte inclusivé, que se deslocam ao Algarve para passarem umas merecidas férias, e que muitas vezes são preteridos pelos estrangeiros em simpatia e disponibilidade. Já agora quanta publicidade anda por aí que é um atentado, pelo menos ao bom gosto, e ninguém pede indemnização.
Vamos preocupar-nos com coisas sérias, será que o Algarve não poderia pensar a Capital Europeia da Cultura 2012 em Guimarães como uma alavanca para ter mais turistas, em vez de pedir guerra, fazer uma parceria com Guimarães... e esta hein...

domingo, 29 de agosto de 2010

Actualidades - Desemprego em Guimarães

O Concelho de Guimarães regista em Julho de 2010 cerca de 17.700 pessoas desempregadas.
Pelo menos, os que estão registados no Centro de Emprego, pois, teme-se que o número seja manifestamente superior.
O Distrito de Braga tem neste momento cerca de 53.500 pessoas sem emprego, o que significa que só em Guimarães residem 1/3 dos desempregados, ou seja, 33 %.
A taxa de desemprego em Guimarães é superior em 4,9 pontos percentuais, da taxa de desemprego nacional, sendo em Guimarães de 15,7 % e a nível nacional de 10,8 %. resultando numa taxa superior à média nacional em 45 %.
O Concelho de Guimarães caracteriza-se por um sector primário abandonado, em muitos casos de subsistência e atrasado.
O sector secundário, grande impulsionador da criação de emprego e de riqueza durante muitos anos, caracteriza-se agora por um sector fragilizado, sem capacidade de competir internacionalmente, sem investimentos que conduzem à inovação e à diferenciação de produtos, sem um golpe de génio, com alguns empresários inadaptados a novos tempos.
Demasiado dependente da industria têxtil, que sofre de dois grandes males, falta de capacidade de reconversão, e a injusta concorrência internacional baseada no dumping social.
Uma grande falta de capacidade para atrair investimento estrangeiro de qualidade, gerador efectivo de emprego, e perene no tempo.
O sector terciário, caracteriza-se por um comércio na vertigem do encerramento, com fôlegos extemporáneos por programas ocasionais do QREN, sujeito a uma cada vez maior concorrência das grandes superficies. Já são duas em Guimarães.
A actividade turística subaproveitada, tendo em conta o potencial histórico, património mundial, na perspectiva de segmentação turística, para um turísmo mais paisagístico e cultural, feito de turistas com maior poder de compra, a ver vamos capital europeia da cultura.
Concelho de empresas pobres e empresários ricos, sociologicamente, existe uma nefasta característica eivada em algumas camadas da população, da necessidade de exteriorização de sinais de riqueza, como afirmação de status social, na falta de mais valias verdadeiramente mais relevantes.
Uma Câmara Municipal amorfa arrogante e acomodada, gerindo ao sabor do momento, numa perspectiva de "Pão e Circo" bem ao estilo de antigos imperadores romanos, como são as festas Gualterianas.
Burocrática, pejada de "Jobs for the Boys" egocêntrica, basta para isso comparar o nível de investimentos nas freguesias mais urbanas, com as freguesias mais longínquas do centro do Concelho.
Sem capacidade de modernização, sem capacidade de pensar novos processos, novas formas de administrar a coisa pública, cometendo erros estratégicos, já seguidos a nível nacional, como por exemplo, as PPP, Parcerias Público Privadas.

sábado, 28 de agosto de 2010

Economia - Economia uma Ciência Ética

Um cumprimento a todos, neste artigo inaugural sobre E(e)conomia.

"Economia para quê? "

Existem duas abordagens fundamentais... aqueles que lutam por uma Economia como uma espécie de parente pobre das ciências exactas. Desde 1776 temos vindo a aturar os devaneios de Adam Smith, David Ricardo, Leon Walras, Milton Friedman e peço desculpa aos inúmeros outros sonhadores que me esqueci, que postulam nas diversas vertentes da teoria clássica a racionalidade e certeza dos agentes económicos.

Aqueles que assumem a Economia num lugar de destaque nas Ciências Sociais, imprevísivel, não ergódica, com as falhas inerentes à condição humana e à racionalidade condicional do ser humano... e por isso, acima de tudo, humanista... igualitária... simples... prática... e adaptável ao mundo real. Esta é a economia de John Maynard Keynes, Paul Davidson, e com alguns reparos, Paul Samuelson, Paul Krugman, entre muitos outros.

É a Economia que serve as pessoas, e não se serve das pessoas, é a Economia que pensa no curto prazo, porque o longo prazo estaremos todos mortos..."a não ser os vampiros de Wall Street"... é a Economia que luta, que estuda, que sugere hipóteses de Pleno Emprego... em Políticas expansionistas auto sustentadas, que valor mais alto poderá ter a Economia senão lutar... repito lutar por uma sociedade de Pleno emprego...

É a partir desta base de pensamento que debitarei para este blogue as minhas ideias, no seguimento genético de muitos outros, com a exacta percepção que a Economia é uma Ciência Social, Humanista, Ética, Imprevísivel, com defeitos e virtudes, como qualquer outra "coisa" produzida pelo Ser Humano...