Faço aqui um intervalo na série de comentários que estava a desenvolver sobre o texto denominado "Os Economistas aterrados".
Gostaria de escrever um pouco sobre a forma como a Economia aborda a questão da pobreza, e reflectir como alguns economistas ignoram-na nas suas diversas aparições audio visuais.
Não vou desenvolver esta matéria neste espaço, no entanto, quando finalizar a minha tese de mestrado em Economia Social, partilharei, no mesmo formato que o projecto "Economistas Aterrados", algumas partes da mesma, que aborda a pobreza de uma forma genérica, e o RSI em particular e como pano de fundo.
A pobreza é um fenómeno que envolve um conjunto alargado da população Portuguesa. Estima-se que cerca de 18% da população está numa situação de pobreza relativa. Penso que o valor poderá ser mais elevado, na medida que o critério harmonizado com a União Europeia, 60% do rendimento mediano do país é, na minha opinião, altamente discutível. Mas deixo estes assuntos para outra oportunidade.
Para já centro-me na questão da pobreza e a sua omissão como fenómeno com enorme relevância económica.
As transferências sociais são fundamentais para alcançarmos este nível de pobreza, ainda assim, demasiada, tendo em conta que sem essas transferências sociais, o valor poderia facilmente subir para cerca de 30%.
Quando se aborda o tema da competitividade, mais e melhores empresas, mais produtividade, mais exportações, reduzir o déficit do saldo orçamental, tudo isso são questões que têm de ser necessariamente valorizadas, contudo, é díficil pedir tudo isso, sem atacar o verdadeiro grande e seminal problema de Portugal, a pobreza, nas suas diversas manifestações. Não só a pobreza material que se traduz em 18% da população.
Como se pode pedir mais competitividade, mais produtividade (que resulta de mais investimento em capital tecnológico, mas também em capital humano), quando uma parte importante da população só pensa se o dinheiro vai chegar até ao fim do mês para pagar as despesas básicas, incluindo alimentação.
Mas não é só de pobreza material que envenena Portugal e o seu potencial humano de crescimento, que vai destruindo o País.
A pobreza de espírito, e formação de uma parte dos "empresários" Portugueses, que discutem o pagamento de mais 10 euros aos trabalhadores (aumento de salário mínimo de 475 euros para 485 euros), mas quando conseguem um financiamento em condições desastrosas, pagando uma taxa de juro agiota e insuportável, calam-se, e não discutem, ou pagam à EDP, preços de energia monopolistas, minando aos poucos as PME's, permitindo aos accionistas a obtenção de elevados dividendos, a coberto de um regulador dormente, subserviente e incompetente.
A pobreza da precariedade do emprego e dos baixos salários, dos "chicos espertos" sempre à procura de contornar a legislação, desmotivam e impedem os trabalhadores a procurarem formação, a melhorarem as suas competências, a tornarem-se mais produtivos.
A pobreza da precariedade do emprego e dos baixos salários, dos "chicos espertos" sempre à procura de contornar a legislação, desmotivam e impedem os trabalhadores a procurarem formação, a melhorarem as suas competências, a tornarem-se mais produtivos.
A pobreza da educação e literacia de alguns Portugueses, que não têm ambição de aprender mais, saber mais, ser um melhor profissional, melhorar a sua condição de vida e rendimentos, fruto de um melhor saber fazer, em vez de o fazer através de esquemas.
A pobreza política da classe política vigente, apenas preocupada com propaganda cega e senil, atribuindo vergonhosos e chorudos salários a administradores de empresas públicas, ou fundações como a fundação de Guimarães, para a Capital Europeia da Cultura.
A pobreza da distribuição dos rendimentos (Portugal é dos países mais desigual na distribuição dos rendimentos nos países da europa a 27, medido pelo índice de Gini= 36% em 2008.
Para sermos mais produtivos, e assim mais competitivos, exportarmos mais, sermos mais justos é preciso primeiro combater os vários fenómenos de pobreza que campeiam em Portugal, a começar pela pobreza material, mas sem perder de vista as outras. Não basta falar em competitividade e produtividade no vazio, elas devem estar ao alcance de toda a população.
Sem comentários:
Enviar um comentário