domingo, 5 de setembro de 2010

Actualidades - Competitividade e Bom Senso

Sinais dos tempos... Li na edição do passado Sábado (4/09/2010 - JN) numa pequeníssima nota, quase imperceptível, que Michael O'leary, CEO da conhecida companhia aérea Rynair, defende, que um só piloto nas viagens da Rynair é suficiente. Pergunta imediata do jornalista, e que penso, seria a pergunta que nos assolaria a todos... e se o piloto tivesse um ataque cardíaco ? Resposta pronta, do CEO, típica de um homem de sucesso e exímio entendedor do ramo e das práticas mais modernas de Gestão, "teríamos um membro da tripulação da Rynair preparado para aterrar o avião. Ou seja, teríamos uma hospedeira a aterrar um avião. Entretanto poderia servir uns "whiskesinhos" com valiuns para evitar sessões de pánico nos passageiros.
A intenção do CEO da Rynair é clara, reduzir custos, reduzindo preços, ou mantendo os preços, aumentando os lucros... em suma aumentar a competitividade da empresa, posicionando-a num patamar superior relativamente aos seus concorrentes.
Já agora, seria possível sem piloto... talvez apenas o piloto automático daria conta do recado, pelo menos esse não teria ataques cardíacos, e pelos vistos é assim que a nossa selecção joga.
Poderemos criticar o CEO da Rynair? À luz das novas tendências da economia e da gestão, liberalização e desregulamentação dos mercados, aumento da produtividade e da competitividade empresarial, num mundo cada vez mais global e concorrêncial, Michael O'leary apenas aplica no terreno essas receitas.
Já agora poderíamos ter num bloco operatório, apenas o cirurgião, dispensa-se o anestesista, e outros médicos e enfermeiros altamente especializados e, caso o médico cirurgião tivesse um ataque cardíaco, chamava-se a mulher da limpeza para finalizar a dita operação. A redução de custos na saúde seriam astronómicos.
A cegueira neo-liberal leva-nos a expor-nos ao rídiculo, provavelmente Michael O´leary estudou a lei das probabilidades, de um piloto ter um ataque cardíaco, ou outra maleita que o impedisse de pilotar o avião, e concluiu que a probabilidade encontra-se nos extremos da curva de Gauss em forma de sino, ou seja, muito pouco provável.
Neste pressuposto, com os cifrões brilhando nos seus olhos, Michael O'leary, pressionará agora a autoridade para a segurança aérea para aprovar esta nova prática. Não sabemos que efeito multiplicador a norma terá nas outras companhias aéreas, mas a vantagem competitiva que O'leary tenta alcançar, num mercado competitivo e concorrencial como este, será "sol de pouca dura", a não ser que as outras companhias aéreas tenham um assomo de sensibilidade e bom senso (excelente filme, já agora).
Imagino uma hospedeira, sem qualquer experiência de voo, com umas lições em simulador, e quiçá, uma ou outra aterragem, com um piloto verdadeiro ao lado, entre servir umas bebidas, ou a comida de plástico da praxe, a correr para a cabine, porque o piloto se está a sentir mal.
De repente está a braços com um "bicharoco" de não sei quantas toneladas, à procura de uma pista para aterrar, discutindo com a torre de controlo, dizendo que vê muitas luzinhas acessas e outras apagadas, e que lhe estão a chamar do lugar 23 F, pois, estão a pedir um sumo de laranja.
A procura da competitividade e de maiores níveis de produtividade é perfeitamente legítima e saudável, contudo, nunca à custa de direitos fundamentais dos trabalhadores, dos clientes (neste caso passageiros), entre os quais, um deles, elevados padrões de segurança.
Aquilo que está a acontecer no Chile aos 33 mineiros, não é só um fenómeno natural. É a demissão do Estado na vistoria, na entrega a sectores privados doentiamente gananciosos, que descuram os mais básicos conceitos de segurança, como a falta de uma escada que impediram os mineiros de subir, a troco de salários de miséria, arriscando as suas vidas todos os dias, para os capitalistas do costume açambarcarem sem dó nem piedade o fruto do trabalho de outros.
São estas pequenas grandes coisas, como o exemplo da Rynair, que vão moldando, e mostrando a sociedade que temos, a desumanização, a recuperação de conceitos darwinistas, a individualização da sociedade, que só nos levarão há anarquia, egoísmo e retrocesso civilizacional.
Sinais dos tempos...

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Actualidades - A publicidade de Guimarães

Em vez de escrever actualidades no título, estive a pensar em colocar frivolidades. Mas não seria esse o objectivo.
Confesso que o meu profundo amor pela cidade que não me viu nascer, mas acolheu-me ainda no berço de 5 meses de vida, na primavera de 1970, e que até hoje, continua a ser a minha cidade de sempre, por tudo e mais alguma coisa, poderá prejudicar o distanciamento e o discernimento que deveria ter na emissão da opinião seguinte. Por isso faço este ponto de ordem inicial.
Vi e ouvi, com espanto uma entidade, penso que ligada ao turismo do Algarve a insurgir-se, com manifesta indignação sobre determinada publicidade que a Fundação Guimarães Capital Europeia da Cultura 2012, decidiu colocar nos escaparates nacionais.
A foto mostra uma praia vazia em pleno verão, dando a entender que em 2012 todos os caminhos vão dar a Guimarães, e que portanto, as praias do Algarve que se cuidem que vão estar completamente vazias, à custa da Capital Europeia da Cultura. Guimarães vai sofrer uma enchente humana de proporções bíblicas, não será possível andar, conduzir...em suma viver em Guimarães, tal vai ser a quantidade de curiosos a assistir aos eventos da Capital Europeia.
Os comentários desse organismo de turismo do Algarve, passam desde revolta, até, imagine-se um eventual pedido de indemnização.
De tão rídicula exposição desta posição, por parte de um responsável pelo turismo Algarvio, que quem deveria pedir uma indemnização por perdas e danos seria a Fundação Guimarães por difamação e exposição ao rídiculo, que pode chegar ao ponto de levar os turistas a procurarem outras paragens que nem seja Algarve e Guimarães.
O sentido da mensagem da Fundação Guimarães é bem clara, tenta chamar atenção pelo "non sense", por uma situação limite, de forma a precisamente captar o interesse do público em geral.
Não tem quaisquer segundas intenções, de diminuir, ridicularizar, ou qualquer outra, que não seja, através de um certo humor e boa disposição, chamar a atenção das pessoas.
Mas parece que para esse organismo Algarvio, a caparuça serviu. Já agora era interessante saber quanto dinheiro que o Estado gasta por ano na promoção do "ALLgarve", e que é pago por todos nós. Já agora, como se têm sentido os turistos Portugueses, do norte inclusivé, que se deslocam ao Algarve para passarem umas merecidas férias, e que muitas vezes são preteridos pelos estrangeiros em simpatia e disponibilidade. Já agora quanta publicidade anda por aí que é um atentado, pelo menos ao bom gosto, e ninguém pede indemnização.
Vamos preocupar-nos com coisas sérias, será que o Algarve não poderia pensar a Capital Europeia da Cultura 2012 em Guimarães como uma alavanca para ter mais turistas, em vez de pedir guerra, fazer uma parceria com Guimarães... e esta hein...