segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Empobrecimento activo

O maior deficit de Portugal foi e é a educação. A responsabilidade pelas más políticas educacionais são sucessivamente dos governos. No tempo da monarquia imperava o elitismo, fruto de nascimentos em berço de ouro, e apenas raramente poderia alguém do povo destacar-se no plano educacional e social. A 1ª republica teve um assomo de desenvolvimento educacional, com a disseminação de escolas primárias no país. Contudo, dada a pobreza extrema que o país, em particular o rural vivia, impedia a existência de condições para que a maioria das crianças pudesse sequer frequentar as aulas, e por isso, a ambição foi tolhida pelo realismo português do início do século XX. No início dos anos 30 entramos na idade das trevas políticas e educacionais. A "antiga" 4ª classe era o grande objectivo a atingir, alguns conseguiam completar, poucos conseguiam um pouco mais, e raros eram aqueles que frequentavam e completavam o ensino superior. A necessidade de começar a trabalhar rapidamente fazia parecer para muitos que a escola era o suplício a ultrapassar, dava para escrever o nome e ler o jornal desportivo. A emigração em massa nos anos 60 e a maldita guerra ultramarina completava o resto. Assim, ao longo do século XX, com as raízes herdadas de séculos anteriores, gerações e gerações de portugueses caíam no ciclo vicioso da pobreza, fruto de um contexto histórico e político adverso, inconsequente e incompetente, que alimentava um grupo restrito de elites que alocava para si o rendimento gerado no país, e que não tinha uma visão estratégica para um programa educacional, de qualidade, universal, gratuito, motivador, e que acima de tudo alterasse mentalidades e costumes. Com a democracia, abre-se uma nova esperança. Proliferam as universidades, em poucos anos o número de alunos no ensino superior disparam. A sociedade portuguesa nos últimos 40 anos mudou profundamente, a escola enriqueceu o espírito crítico dos portugueses, tornou-os mais avisados, mais produtivos. No entanto, o vírus do século passado manteve-se activo. O 25 de Abril não o eliminou, o vírus do elitismo social e político. O vírus das empresas monopolistas, (Galp, EDP) que através de preços inadequados e acima dos preços de equilíbrio alimentam sumptuosos lucros, enriquecendo à custa do empobrecimento geral da sociedade. Uma banca mais preocupada na especulação financeira, nos jogos de monopólio do que implementar uma apropriada política de financiamento da economia portuguesa, onde milhares de empresas definham pelo caminho da insolvência. Um governo profundamente incapaz, incompetente, e ardiloso, subserviente das políticas da troika. Portugal é uma vítima do euro, mas o euro é apenas uma moeda. O euro é mau para Portugal porque as instituições criadas para liderar o euro são desadequadas, partilham uma cartilha própria que defende os interesses da Alemanha. Porque abrimos alegremente as fronteiras a países com mão de obra muito barata, que destruíram capacidade produtiva, atirando milhares de portugueses para o desemprego estrutural. O desemprego cresce, é bem possível que em 2013 cheguemos a uma taxa que ronde os 20%. Os jovens, quando arranjam qualquer coisa, deixam-se iludir pela precarização. Aquilo que o neoliberalismo já tinha dado no século XIX, e no início do século XX, foi fome, miséria e desigualdade. Agora a história repete-se, disfarça-se a sociedade com RSI's e outros apoios sociais. Mas isto não é mais que uma forma de tornar a pobreza permanente e (in)suportável. Serve para este capitalismo, filho e neto, da revolução industrial, expurgar a sua ignomínia. E a escola, a tal escola, onde se gasta mais dinheiro em juros para alimentar o dinheiro especulativo, a troika do que a educação. Sujeita-se a 30 alunos por turma, à retirada em massa de professores, muitos com carreira feita, e experiência acumulada de vários anos. É a fase final do capitalismo podre e absurdo, onde se valoriza mais a especulação do que o investimento em emprego, a produzir coisas que realmente precisamos. E nós... continuamos céleres e não seguros para o empobrecimento activo.