quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Economia - Economistas Aterrados Parte I-A

1. Falsa Certeza - Os mercados financeiros são eficientes. (1ª Parte)
Dei por mim a ler a revista Courrier Internacional, na sua edição de Novembro de 2010, e o seu excelente trabalho sobre o Estado Social, e decidi debruçar-me nos próximos artigos, a um tema, melhor dizendo, um manifesto de um conjunto de economistas, apelidados de aterrados sobre a qualidade do debate económico. Estes economistas, Philippe Askenazy, Thomas Coutrot, André Orléan e Henry Sterdyniak, lançaram uma petição intitulada "Manifesto dos economistas aterrados." Para saber mais: http://www.slideshare.net/MMDP/manifeste-deconomistes-atterres
Estes investigadores produziram uma lista de 10 pontos a que chamam "as falsas certezas económicas", cuja consequência mais grave, é produzirem para a sociedade em geral medidas injustas e ineficazes. A chamada ortodoxia liberal, com os seus dogmas de desregulamentação de mercados, planos de austeridade, já identificado por André Orléan através do seu livro "Le Pouvoir de la Finance) O poder da finança.
É neste contexto, que os meus próximos artigos neste blogue, serão dedicados a comentar, e quiçá acrescentar, tendo em conta a minha própria perspectiva pessoal, as 10 falsas certezas, e as respectivas 22 oportunas contrapropostas, feitas pelos investigadores acima citados.
A primeira falsa certeza que nos tentam impingir é que os mercados financeiros são eficientes.
Nesta matéria os investigadores propõem 4 medidas:
"1. Circunscrever com grande rigor os mercados financeiros e as actividades dos agentes financeiros, proibir que os bancos especulem por conta própria, para evitar a propagação das bolhas e do crash financeiro."
Aqui, neste ponto, só um grande consenso internacional poderá deter o curso destruidor da alta finança internacional, e voltar a trazer a economia real, das pessoas, do humanismo, ao centro das atenções e decisões políticas.
Sobre a especulação, gostaria de contar uma pequena história para a explicar: num determinado país à beira mar plantado havia demasiados banqueiros, gorduchos e abastados, a fumar permanentemente charuto. Um belo dia, chegou um indivíduo a esse país, e decidiu oferecer aos seus habitantes, 100 euros por cada banqueiro que os seus habitantes apanhassem.
Entusiasmados pela oferta, iniciou-se a caça ao banqueiro. Esse estranho indivíduo comprou centenas de banqueiros por 100 euros, e o esforço de caça ao banqueiro diminuiu.
O indivíduo regressou e para incentivar os habitantes a continuarem a caça ao banqueiro, decidiu oferecer 150 euros por cada banqueiro caçado. A caça voltou a aumentar, contrapondo com a maior escassez de banqueiros disponíveis, fazendo diminuir outra vez a caça ao banqueiro.
Ainda assim, o comprador de banqueiros, aumentou a sua oferta para 175 euros, mas a quantidade de banqueiros disponíves a serem caçados era tão baixa que já não havia interesse na caça.
Outro belo dia, o investidor (comprador de banqueiros), decidiu ir embora, sem no entanto oferecer 200 euros por cada banqueiro, deixando o seu secretário particular a gerir o negócio de compra de banqueiros.
Tendo em conta, mesmo ao preço a 200 euros, a escassez de banqueiros, desincentivava a caça dos mesmos. O secretário, propôs então vender os banqueiros que entretanto tinha em seu poder aos habitantes, e que haviam sido comprados antes aos preços mencionados, ao novo preço de 150 euros, e quando o misterioso indivíduo voltasse, os habitantes venderiam os banqueiros outra vez ao preço de 200 euros.
Através desta parábola, sintetizo o jogo financeiro de mil de milhões de euros, dólares, yenes, entre outros, que vão sendo transferidos de mão em mão, apenas através de manipulação de preços, oferta e procura de activos financeiros, sem acrescentar nada de positivo à sociedade em geral, correndo livremente pelo mundo com controlos inexistentes, ineficazes ou reduzidos, provocando bolhas especulativas que degeneram em crises de liquidez, contangiando a economia real, a confiança da sociedade, e minando o Estado Social e Humanista.
Como pretendo artigos razoavelmente curtos, voltarei no próximo artigo com as medidas 2, 3 e 4 da falsa certeza 1. que lembro - Os mercado financeiros são (in)eficientes.